Bolsonaro e o Mito da Caverna

Bolsonaro e o Mito da Caverna

O preparo intelectual do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é inquestionável. Realmente, um médico de estudos e conhecimentos aprofundados. Todo dia sendo ameaçado pelo presidente Bolsonaro de demissão por defender o isolamento social no combate ao coronavírus, tem demonstrado elevado controle emocional. Não se desequilibra para enfrentar a insensatez e a ignorância de quem é obrigado a tranquilizar a sociedade pela liturgia do cargo que exerce.

No episódio de que poderia cair do ministério, manteve-se na postura de sempre e com muita tranquilidade informou ao Brasil de que passou o último final de semana lendo o livro “Mito da Caverna”, escrito por Platão, um dos mais importantes pensadores da Filosofia. O ministro disse também que a primeira vez que leu o livro tinha 14 anos de idade.

Agredido constantemente por fazer o bem para o Brasil na guerra contra o vírus, Mandetta foi se socorrer da sabedoria de Platão para poder conviver e suportar uma boçalidade que virou presidente.

Em Mito da Caverna, obra também conhecida como Alegoria da Caverna, Parábola da Caverna e Prisioneiros da Caverna, na síntese da professora de história Juliana Bezerra, especialista em Relações Internacionais, Platão revela a importância da educação e da aquisição do conhecimento, sendo esse o instrumento que permite ao homem estar a par da verdade e estabelecer um pensamento crítico.

Na filosofia retratada na obra, o senso comum - que dispensa estudo e investigação - é representado pelas impressões aparentes vistas pelos homens através das sombras. O conhecimento científico, por sua vez, é baseado em comprovações, é representado pela luz.

Assim, tal como o prisioneiro liberto - desperta Platão para uma reflexão -, as pessoas também podem ser confrontadas com novas experiências que ofereçam mais discernimento. O fato de passar a entender coisas pode, no entanto, ser chocante e esse fato é inibidor para que continuem a buscar conhecimento.

Na interpretação do livro a sociedade tem a tendência de nos moldar para aquilo que ela quer de nós, que é aceitar somente o que nos oferece através da informação transmitida em meios de comunicação.

Ainda na interpretação, desde a antiguidade, a filosofia de Platão quer mostrar a importância da investigação para que sejam encontrados meios de combate ao sistema.

Segundo a análise literária-filosófica, o Mito da Caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo. Pela metáfora de Platão o processo para a obtenção do conhecimento abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis e o domínio das ideias. Para o sábio, a realidade está no mundo das ideias (um mundo real e verdadeiro) e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância (um mundo das coisas sensíveis).

No livro, a intenção de Platão é apresentar uma disposição hierárquica para os graus de conhecimento. O grau inferior para reportar o conhecimento obtido pelos sentidos do corpo; o superior, pelo conhecimento racional. Assim, o homem sente um incômodo muito forte com a luz solar, ofuscando a visão. Quando consegue enxergar percebe que a realidade do mundo não se parece com nada do que ele tinha conhecido até então. Então, aprende que o que ele julgava conhecer antes era fruto enganoso de seus sentidos, que são limitados.

A leitura do Mito da Caverna impõe uma reflexão sobre como podemos resgatar valores humanos para a formulação de um senso crítico da realidade. Refletindo com a oportuna e adequada leitura, Mandetta comparou Bolsonaro ao prisioneiro da caverna que, ao se libertar, descobre que tudo aquilo que imaginava era falso, que a realidade atual impõe novos e diferentes conceitos. Ignorante, o presidente não deve ter entendido e nem colhido nada da parábola-mensagem usada pelo ministro para a insensatez contra o vírus.

Inspirado na intelectualidade de Platão, implicitamente Mandetta cunhou Bolsonaro de idiota útil, que adere a qualquer situação que o agrade sem utilizar critérios analíticos, tornando-se presa fácil para manipulação como um “defunto intelectual” que insiste em desacreditar a ciência para aplausos no picadeiro da imbecilidade.

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