Propósitos de Bolsonaro

Propósitos de Bolsonaro

Todo mundo sabe que a pessoa que ocupa um cargo comissionado, função de confiança em quaisquer dos poderes, pode ser exonerada “ad nutum”, termo jurídico em latim que expressa demissão ou exoneração de funcionário público não estável a juízo da autoridade hierarquicamente superior.

Luiz Henrique Mandetta, atual ministro da Saúde, é uma autoridade que poderá ser demitida “ad nutum” por Bolsonaro. Vem, então, a pergunta: “Por que Bolsonaro não o demite?” Estranho! O certo é que na grave crise do Covid-19 a população não sabe em quem acreditar. Se no ministro ou no presidente. Também é certo que isso tem gerado insegurança jamais vivida pela população brasileira. Diferentemente do que vem ocorrendo em outros países atingidos pela pandemia. Mais certo ainda é verificar uma população dividida pelo aconselhamento de um médico e pela orientação de um neófito.

Bolsonaro seria um louco?

Não! A antropóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jaqueline Muniz, diz não enxergar em Bolsonaro um maluco. Mas, um indivíduo que passou por um processo de “construção do mito”, cujo procedimento em público tem ocorrido por “sacrifício de um ritual”, para mostrar a seus seguidores e simpatizantes uma imagem de um “profeta” ou de um “chefe tribal” contra tudo e contra todos, como revoltado que se oferece como “vítima” e como “cordeiro de Deus” para sua trupe, sua muvuca, sua balbúrdia. “Eu não vejo o presidente nem como maluco e nem como alguém que tem transtornos psíquicos, isso é uma naturalização e banalização dos sofrimentos psíquicos e da loucura, e isso tem seus rendimentos”, alerta.

Como “chefe tribal” para sua armação e bagunça, Bolsonaro se expõe a todo tipo de humilhação apenas para agregar poder entre os seus. Nada mais! Seria um bochincheiro apoiado por baderneiros. “No Brasil o neoliberalismo chegou antes mesmo do estado de bem-estar social. E encontra solo fértil numa sociedade hierárquica desigual que naturaliza esta desigualdade. Aqui matar ou deixar morrer tem mérito, e morrer tem merecimento: isto é o ponto que junta saúde pública e segurança pública. E suas formas de controle e vigilância à esquerda e à direita” – diz.

O confronto com Mandetta e a contrariedade às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram claramente que Bolsonaro não age com racionalidade, mas como “chefe tribal”, como um “afogado” que quer se sustentar em qualquer galho para se salvar do iminente naufrágio no poder. Alimenta apenas uma “corja” que o aplaude em suas desobediências cívicas para posar de vítima de uma conjuntura confrontada ainda na campanha eleitoral dele. O mundo dele é anverso!

Para a terapeuta ocupacional Larem Aguiar, especialista em Saúde Mental, “muito se propagou nas redes sociais e nas ruas o discurso de que Bolsonaro é um louco, que seus eleitores só podem ter esquecido de tomar os remédios e que seus nomeados saíram de um hospício”. A terapeuta acha que Bolsonaro e seu governo apenas trabalham “para atender aos interesses de uma parcela muito limitada da população, logo, suas ações são atos lúcidos, objetivos e meticulosos. (...) Saúde não se vende, loucura não se prende!”

Induvidosamente, Bolsonaro faz tudo de propósito. Meticulosamente armado e de caso pensado. Ainda que suas asneiras e seus absurdos levem à degradação da instituição Presidência da República e, por conseguinte, à queda de popularidade dele, o que interessa é a anarquia político-administrativa, a ausência ou a limitação do Estado. Anarquistas como Bolsonaro são basicamente os que professam a ideia contrária à forma de ordem hierárquica.

Assim, contrapor-se a Mandetta, à pandemia, à defesa da saúde, da vida e ao controle do isolamento social no planeta faz parte dos “propósitos de Bolsonaro”, de uma tática política – suicida ou não – para massagear o ego de seus seguidores e apoiadores, sobretudo da turma que alimenta a irracionalidade e que tem levado muita gente incauta para a negação, para a raiva e para a depressão com significativa afetação da saúde mental. Porque na cabeça insana dessa gente e de seu “mito” o caminho da insurreição poderá render dividendos eleitorais no futuro para um “chefe tribal” na “selva” de desvairados que celebram a mortandade.

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