Impactos do coronavírus nas urnas

Impactos do coronavírus nas urnas

Muitos ainda alimentam a hipótese de que outros picos mais graves da Covid-19 possam alterar outra vez o calendário eleitoral das eleições de 2020. Ainda que a “roda da democracia” tenha que girar, parece de todo conveniente que a questão científica-sanitária deva imperar.

Definidas as datas para a realização de primeiro e segundo turnos das eleições, resta-nos analisar os impactos do coronavírus nas urnas, tanto para quem concorre à reeleição como para quem pretende retornar a um cargo eleito ou buscá-lo pela primeira vez.

Diante do imponderável do vírus, ninguém sabe como o(a) eleitor(a) vai se comportar nas urnas. Impossível, pois, fazer qualquer previsão. Será uma eleição atípica provocada pela excepcionalidade da pandemia. Ainda que se possa admitir uma “normalidade aparente”, o futuro é incerto. O coronavírus atrapalha uma melhor avaliação da eleição. Alguns candidatos serão prejudicados; outros, aproveitando-se do momento.

Forçosamente, o vírus modificará a forma de como os(as) candidatos(as) terão que se reunir para traçar planos. Será imperioso modificar o comportamento e a cultura de se fazer política com o eleitorado. Para cada município cada candidato(a) terá que formular uma proposta diferente, estabelecendo forma de comunicação. Criar mecanismo útil a ser utilizado na busca do voto. Tudo isso terá reflexo nas urnas.

As perguntas que se fazem são as seguintes: Como será feita a campanha eleitoral diante dessa anormalidade? Estaremos em normalidade social até as eleições de novembro? Como será o diálogo com a sociedade em casa? Como será, então, essa interação na eleição? Candidatos(as) sentir-se-ão seguros com a promessa do voto? Como será a fiscalização da compra e venda de apoios políticos e eleitorais?

A verdade é que tanto candidatos(as) como partidos políticos terão que se adaptar a uma campanha eleitoral alterada pela pandemia. A forma de trabalhar e de se relacionar com o(a) eleitor(a) vai mudar substancialmente.

Na avaliação de especialistas, será uma campanha eleitoral quase que totalmente digital, exigindo muito dos(as) candidatos(as) e de suas respectivas campanhas eleitorais. O fluxo de informação terá um impacto maior e mais forte com o eleitorado em casa. Será, enfim, uma adaptação a um novo tipo de campanha eleitoral.

Teremos, portanto, uma eleição com um “inimigo invisível”. As consequências político-eleitorais aparecerão no futuro em razão do vírus. Será uma campanha eleitoral imersa em um ambiente de angústia e de desconfiança. Uma eleição dentro de um clima totalmente diferente, inclusive de prioridades.

“Vai ser difícil enxergar candidato apertando mão do eleitorado mesmo que o pico da crise do coronavírus tenha passado. O tradicional corpo a corpo será ainda mais substituído pela campanha na internet, algo que já ocorreu nas eleições de 2018, mas que em 2020 será ainda mais fundamental”, avalia Anderson Silva, especialista em marketing eleitoral.

“Estamos passando por uma ruptura. Na campanha não estaremos falando de sonhos, mas de dor e de reconstrução. É como um pós-guerra. As pessoas querem soluções de restruturação e reconstrução. A palavra da eleição será empatia”, vaticina Elis Radmann, cientista social e política, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).

“Vamos tratar da vida em sociedade de um outro jeito. Porque temos uma vida muito mais gregária, solidária, coletiva, do que imaginávamos. Esta percepção faz com que também passemos a dar mais valor às políticas públicas”, diz Fábio Bernanrdi, estrategista político, publicitário, vice-presidente de Planejamento do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (Camp).

“É a eleição da incerteza e as campanhas vão se organizar em meio a esta incerteza. Não sabemos quais serão as condições sanitárias, as pessoas estão bastante irritadas e há uma tendência alta de abstenção. Neste cenário, as redes sociais vão se tornar ainda mais importantes. Por isto, os candidatos que estão já organizando suas redes estão ganhando tempo”, alerta Juliano Corbellini, cientista político e consultor de marketing eleitoral.

Concluindo, nas minhas pesquisas e avaliações, concordo plenamente com o raciocínio de que o problema não é a eleição. Mas, a campanha eleitoral. Porque a pandemia do vírus vem se impondo de tal forma para mudar realidades que acaba mexendo com todas as estruturas político-partidárias, afetando, por conseguinte, as mais variadas estratégias eleitorais.

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