Eleição em Teresina – O rescaldo após derrota

Eleição em Teresina – O rescaldo após derrota

A eleição municipal de Teresina aponta para um fato novo, relativamente previsto, mas certamente emblemático. E falo isto na condição de teresinense, filho, neto e bisneto de piauienses. Após quatro décadas, o PSDB perde a hegemonia política e administrativa da capital do estado, um processo sobre o qual sobram muitas indagações (e algumas certezas) de como se deu a conformação dessa derrota.

Primeiramente, mostra-se oportuno resgatar os números da eleição de 2016, na qual o atual prefeito Firmino Filho reelegeu-se com 51% dos votos, mas já tendo Dr. Pessoa beirando os 40% no primeiro turno. O sinal foi dado pelo eleitor indicando que os propósitos e posturas do tucanato precisavam de reparos.

A pandemia do Covid-19 mostrou-se um fato superveniente que alterou significativamente o contexto das relações sócias e também políticas em todo o mundo. Por exemplo, antes dela, o presidente Donald Trump era tido como reeleito até por opositores em face do bom desempenho da economia e alta empregabilidade nos EUA. Após alguns meses em 2020, eis a surpresa eleitoral que até hoje tenciona aquele país. É como nas corridas de carro, toda preparação se altera quando no dia da disputa cai um temporal e as possibilidades de vitória se abrem feito um amplo e vistoso leque.

A gestão da pandemia também teve repercussões importantes na capital piauiense. O prefeito Firmino Filho optou por seguir uma linha mais dura, adotando o “Fica em Casa” conforme orientação da OMS, impondo para a população regramentos de cunho protetor à saúde, mas com resultados deletérios para a economia e para o sustento de milhares de conterrâneos. Essa posição, vale destacar, teve estreito alinhamento à gestão petista do governo do Estado, que claramente politizou a pandemia.

O fato é que, meses depois, a OMS passou a adotar diretrizes bem distintas. No começo, vendeu-se o “Fica em Casa” até como cura, mas o senhor Tedros Adhanom, nascido em Eritréia, sabia perfeitamente da ineficácia (tal como a coisa foi posta), pois, quando a pandemia chegasse à África, não haveria o que se falar em Lockdown ou coisa parecida. Naquele continente, o “Fica em Casa” era a certeza da morte, por fome e inanição, de forma rápida e dolorosa. Hoje, a OMS orienta até que se deixem as escolas abertas (como muitas outras atividades) no âmbito da segunda onda do Covid-19 que assola a Europa. Mas isto é um debate que faz apartado.

Voltemos a nossa Teresina. Quantas questões surgem, então, para se entender o transcurso dessa eleição municipal. A economia da cidade é marcada pelo comércio e prestação de serviços, e foram dois setores fortemente atingidos nessa crise de saúde.

Outros prefeitos de capital adotaram também medidas restritivas, mas com tonalidades diferentes. Por exemplo, Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte, reelegeu-se em primeiro turno com impressionantes 63,36% dos votos, mas “chorou” junto com os empreendedores, adotou linhas de apoio e ações mitigatórias. Ao invés de confronto, foi empático e resiliente, e então veio o resultado positivo.

Pelo que se apreende, Firmino Filho encastelou-se em suas convicções. Todavia, ele sabia acerca da repercussão de suas ações. Em determinado momento, nas suas comunicações pessoas em redes sociais, o prefeito fala claramente em possível perda de capital político por adotar tais medidas. Ele tinha ciência da influência que isto teria nas eleições para sucedê-lo.

Dessa forma, vamos então às indagações, vamos procurar entender as escolhas feitas e o encolhimento político de uma sigla pujante como o PSDB.

Por que a preferência em Kleber Montezuma – um técnico reconhecido, mas sem traquejo político – para ser candidato a prefeito de Teresina dentro desse contexto adverso e de resultados imprevisíveis?

Já no primeiro semestre, muitos entendiam que Sílvio Mendes seria a melhor opção. Na linguagem esportiva, ele seria a “bola de segurança”, opção certeira do time em momento de pressão. Sílvio é liderança independente e tem voz altiva. Mostrou entendimento diverso ao prefeito sobre a gestão da pandemia. Médico, ele foi secretário de saúde e por duas vezes comandou a cidade de Teresina, qualidades de sobra que o habilitam para a empreitada. Portanto, fica também essa indagação: por que não

Silvio, mesmo que candidato a vice, podendo inverter a chapa conforme avaliação no transcurso do processo político e de acordo com os prazos da legislação eleitoral?

Bem, mas havia também uma segunda opção para o PSDB. Luciano Nunes recentemente foi candidato pela legenda ao governo do Estado. Realizou papel importante e demonstrou capacidade de liderança. Entre um técnico impopular e um político jovem, mas já tarimbado, não há dúvidas que o nome de Luciano deveria ser considerado.

Mas havia outras opções politicamente plausíveis. Fiquemos, então, no campo técnico. Em face da opção Montezuma, Washington Bonfim estaria à frente nessa fila de possibilidades. De conhecida qualificação, Bonfim fora recentemente destacado para missões políticas. Já coordenou campanhas do partido, era nome trabalhado para embates eleitorais, inclusive para concorrer à prefeitura da capital. Ele foi amálgama na aliança entre PP-PSDB, filiando-se ao Progressistas juntamente com Silvio Mendes.

Firmino acabou ficando onde estava, poderia eleger Washington Bonfim a deputado estadual, mas preferiu solução caseira lançando a própria esposa ao legislativo via PP. Bonfim ficou no limbo, mas agora seria uma opção bastante razoável, inclusive invocando todo o kwon-how dos Progressistas em eleições municipais.

Contudo, o que se observa é o caráter personalíssimo na escolha do prefeito Firmino Filho. Deixou de lado o pragmatismo, esqueceu-se da dura eleição que enfrentou em 2016, sublimou conflitos com grupos de empreendedores, não deu ouvidos aos conselhos políticos dos mais próximos e assumiu todos os riscos de lançar uma candidatura improvável, sem apelo popular, fruto da mente solitária do senhor prefeito. Se ganha, levaria todos os louros, mas a derrota lhe cai ao colo sem tergiversar.

Conjectura-se, agora, sobre qual a influência que isso exercerá na eleição estadual de 2022. Herdeiro direto de Wall Ferraz, Firmino Filho entregará, no congraçamento natalício do tucanato piauiense, a conquista de uma única prefeitura cujo município (Passagem Franca do Piauí) apresenta pouco mais de 4 mil  habitantes. Tempos para reflexão.

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