Assis Chateubriand e as redes sociais
Assis Chateubriand e as redes sociais
Inúmeros estudiosos e pensadores do século XX já disseram que se você quer medir o nível de democracia de um povo, analise o grau de liberdade da imprensa. Outros também já vaticinaram: não existirá democracia sem imprensa livre.
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Promotor diz que redes sociais são os carrascos da mídia tradicional (Foto: Portal AZ)
O fato é que não vemos mais ataques aos meios de comunicação como dantes, como o incêndio de jornais, a destruição de máquinas tipográficas ou a sabotagem de transmissões de televisão e rádio, ou mesmo, o assassinato de jornalistas. No mundo hodierno, as coisas mudaram, não se precisa matar ou destruir nada mais, a liberdade de imprensa é negociada, como qualquer produto que se coloca no mercado e, o detém, quem paga mais.
Cresci escutando dos meus professores e dos mais velhos que quem elegia o presidente da república no Brasil era TV Globo, e passaram-se alguns anos para entender bem essa afirmação. É que um veículo de comunicação de massa como esse, que entra diariamente na casa de quase todos os mais de 200 milhões de brasileiros, impacta e, se desejar, manipula irremediavelmente a opinião pública, seja através do noticiário cotidiano, seja até em forma de mensagens subliminares em programas de entretenimento.
A imprensa tradicional, antes tida como o quarto poder, se arvorou dessa prerrogativa em seu próprio benefício, onde o interesse econômico e político passou, de forma acintosa, a vir bem antes do interesse público. Exemplo do resultado desse poderio de peso foi o apoio da imprensa a ascensão ao poder pelos militares em 1964, ou mesmo a eleição do presidente Collor em 1990, ambos apoios, que resultaram no êxito dessas campanhas.
Ocorre que essa imprensa que sempre monopolizou, cooptou e sufocou movimentos e pessoas; deturpou ideias, ou mesmo omitiu informações importantes, enfim, está neste momento agonizando, em pleno estágio de neoplasia aguda.
As redes sociais é o carrasco deste quarto poder que manipulou a informação por séculos. No mundo fluído, qualquer um com um celular na mão é coletor e disseminador de informações, sem edições, sem filtros, sem camarins, sem maquiagens, de forma nua como a verdade. É bem certo também, que há as chamadas fake news, mas o ponto nevrálgico é que a informação não é mais um monopólio da imprensa tradicional, estamos a viver em um mundo que há diversas fontes para se informar, a depender do apetite do explorador. E sem dúvida isso tem trazido um novo paradigma no mundo moderno.
Entre os meios de comunicação de “situação” e “oposição”, surgiu no caminho da equidistância entre estes polos, a informação produzida também pelo próprio consumidor da informação, que de forma eficaz e velocíssima pode ser disseminada nos quatro cantos do mundo. Ditaduras no oriente médio, na américa latina, ou guerras mundo afora podem ser vistas sem filtros e edições, sob os olhos de quem está dentro do “olho do furacão”.
Particularmente no Brasil, vimos durante longos anos uma imprensa que tem como principal cliente o próprio Estado, que interfere, de forma direta ou mesmo (des)pretensiosa, em seus conteúdos tanto ao comprar propaganda destes veículos, como ao dar isenções tributárias e fiscais de forma graciosa, minando assim a imparcialidade que é da essência da imprensa livre.
Nesta toada, o próprio Piauí, após escândalo dos “CPF’s premiados”, denunciado pela página de “Opiauiense” no instagram, onde quase todos os veículos tradicionais da imprensa e vários de seus jornalistas foram cooptados por mesadas polpudas e graciosas pagas por poder estatal, onde reina a corrupção, tal fato descredencia estes veículos e portadores de notícia de qualquer fidedignidade e imparcialidade. É nesta corrente que cada vez mais a população (a que não quer ser enganada, diga de passagem), tem procurado se informar por veículos não tradicionais como blogs e redes sociais.
O ilustre paraibano Assis Chateubriand responsável por fundar os “diários associados” no Brasil e trazer a primeira televisão ao solo pátrio, sabia muito bem o poder que (de)tinha quem (de)tinha a informação e o poder de (di) ou (in) seminá-la, não à toa foi considerado um dos homens mais influentes e poderosos no século em que viveu. Chatô, o rei do Brasil, conforme coroação em biografia pós mortem, usou a informação para chantagear oposicionistas, corromper adversários, “convencer” amigos e esmorecer inimigos. Fala a história ou a estória que muitas das peças do museu do MASP em São Paulo foram doadas “voluntariamente” por ricos da época, irrecusavelmente, persuadidos por Assis.
Bom, lendas a parte, o fato é que a informação sempre foi um bem muito valioso em tempos de paz e, sobretudo, nos períodos de guerras, estando na frente das incertezas da vida, sempre quem teve alguma “certeza” em face da prospecção que a informação lhe possibilitava.
É claro e óbvio que os veículos de imprensa como qualquer empresa, necessitam de dividendos para sobreviver, mas quando a matéria prima do produto passa a ser desnaturada, o próprio produto passa a deixar de existir, podendo se traduzir em tudo, menos em imprensa livre. É como se o queijo deixasse de ser feito com leite, poderia ser tudo, menos queijo...
Nesta tônica, pensemos...O que o visionário Chateubriand faria com o rolo compressor das redes sociais sob os meios de comunicação tradicionais.
Por Rômulo Cordão.