Por que tantos filmes são atribuídos a um diretor que não existe?
Por que tantos filmes são atribuídos a um diretor que não existe?
Se você se considera um cinéfilo, ou se é uma pessoa um pouco mais obcecada por filmes do que aqueles que apenas os assistem casualmente, você provavelmente não repara só nos atores e atrizes principais, mas também presta atenção nos nomes de produtores, roteiristas e diretores. Além disso, hoje em dia esses membros da equipe naturalmente recebem muito mais atenção, com a direção sendo tida como uma das principais forças criativas de um filme.
Além de nomes que imediatamente chamam nossa atenção como Quentin Tarantino, Martin Scorsese, Ridley Scott e Stanley Kubrick, talvez você já tenha se deparado com um filme creditado ao diretor Alan Smithee, mas provavelmente não conseguiu ligar o nome a um rosto. Isso se deve ao fato de que Alan Smithee não existe. Mas então por que tantos filmes são creditados a ele?
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As razões são das mais diversas, mas tudo começou com o filme ‘Só Matando’, de 1969 (cujo título original é ‘Death of a Gunfighter’). Durante as gravações do filme, o ator principal Richard Widmark teve problemas com o diretor Robert Totten, e exigiu que ele fosse substituído por Don Siegel. Quando Siegel fez uma estimativa sobre o quanto cada um havia contribuído para o projeto, percebeu que havia passado apenas 10 dias filmando, enquanto seu colega Robert Totten provavelmente participou de 25 dias de gravações. Além de notar a disparidade, Don Siegel afirmou que o protagonista do filme Richard Widmark comandou o projeto desde o início, interferindo nas gravações de ambos os diretores.
Isso fez com que ambos Siegel e Totten se recusassem a levar os créditos pela direção do filme. Quando a Associação dos Diretores da América (DGA) aceitou o argumento de que o resultado final não representava a visão criativa de nenhum dos diretores, pela primeira vez na história da Associação foi permitido que se usasse um pseudônimo, determinado como Alan Smithee. Esse nome em particular foi escolhido pois era distinto o suficiente pra não ser confundido com nenhum diretor que existisse de verdade, mas não o suficiente pra chamar muita atenção.
Desde então, ‘Alan Smithee’ passou a ganhar créditos como diretor em vários projetos, até mesmo com alguns filmes anteriores a 1969 sendo “corrigidos” para o nome. Atribuir um título a Alan Smithee virou o método oficial de diretores que desejavam renegar um filme, sendo usado várias vezes como forma de protesto. O nome virou um sinal discreto da indústria de que um filme havia sido adulterado contra a vontade de seus criadores.
No entanto, depois do filme ‘Hollywood – Muito Além das Câmeras’, cujo título original é ‘An Alan Smithee Film: Burn Hollywood Burn’, o pseudônimo passou a não ser mais tão discreto. Com aprovação de apenas 8% da crítica no Rotten Tomatoes, o filme foi um desastre de bilheteria, críticas e recepção do público, e por atrair muita atenção negativa ao nome Alan Smithee, a DGA oficialmente aposentou o pseudônimo em 2000, com o diretor Walter Hill, insatisfeito com o filme Supernova, sendo creditado como Thomas Lee.
Além de ‘Só Matando’, alguns dos filmes creditados a Alan Smithee são: ‘City in Fear’, ‘No Limite da Realidade’, ‘Stiches’, ‘Hellraiser IV: Herança Maldita’, além de alguns filmes famosos como ‘Duna’ (de 1984) em sua versão editada para ser transmitida em TV a cabo.
Apesar do nome já ter sido aposentado, a carreira do diretor que não existe ainda poderia ser muito prolífica por anos a fio. Afinal, algo que nunca faltará em Hollywood serão diretores insatisfeitos com as restrições colocadas em seus filmes pelas produtoras e os marketeiros. Da próxima vez que estiver vendo um filme, preste atenção nos créditos ao diretor. Se você vir o nome “Alan Smithee” pular na tela, saiba que o filme que está assistindo provavelmente deveria ter sido bem diferente.