Por onde andam os canalhas?
Por onde andam os canalhas?
Há canalhas para todos os gostos, de todos os tipos e para todos os lados. “Aécio recebeu milhões em propina” – ninguém faz uma manifestação nas ruas ou na imprensa para prendê-lo. “Supremo mandar arquivar processo contra Jucá” – todos ficam calados. “Ministro arquiva processo contra Serra” – até batem palmas. “Arrecadador financeiro do filho de Bolsonaro não vai depor no Ministério Público” - silêncio sepulcral.
O não menos culto Carlos Motta faz uma reflexão sobre um “novo” Brasil somente para canalhas:
- Participe do nosso grupo de WhatsApp
- Participe do nosso grupo de Telegram
- Confira os jogos e classificação dos principais campeonatos
“Durante décadas o Brasil foi o país do carnaval, o país do futebol, o país das praias e mulatas, o país do futuro, o gigante bobo. E também o país da desigualdade, o país da violência no campo e na cidade, o país da miséria, o país da ignorância. O ninho dos oportunistas, o lar dos especuladores, o berço dos aproveitadores. Até que, durante uma década, o Brasil fez um esforço para superar aquilo que o notável cronista Nelson Rodrigues diagnosticou como "complexo de vira-lata", o irresistível desejo de se autodepreciar, de se mostrar sempre inferior aos outros, em todas as áreas. Aos poucos, o mundo foi vendo um outro Brasil, mais sério, mais otimista, mais criativo, mais competente na tarefa de levar a sua população a viver com menos dificuldades, a realizar seus sonhos e não abandonar a esperança de possibilitar a seus filhos um conforto que não teve. O mundo começou a respeitar esse imenso país, de inesgotáveis riquezas, e a ouvir o que ele tinha a dizer a respeito da convivência pacífica e do desenvolvimento equilibrado das nações, pois afinal ele próprio estava fazendo a lição de casa, tirando dezenas de milhões de pessoas da pobreza, ampliando o mercado consumidor, investindo como nunca em infraestrutura e habitação, criando uma rede de proteção para os mais frágeis, e reservando a maior parte dos recursos da monumental reserva de petróleo da camada do pré-sal para a educação e a saúde, cumprindo assim, com os objetivos da magnífica Carta Constitucional promulgada em 1988. Foi uma década de avanços sociais e econômicos como nenhuma outra. Foi, porém, um sonho, interrompido pelas forças que sempre conspiraram contra o progresso do país. Hoje, o Brasil nem é mais o país do carnaval, o país do futebol, das praias e mulatas. Tampouco o gigante bobo - ou o país do futuro. O Brasil hoje é tão simplesmente o refúgio dos canalhas, a fonte de onde brotam o escárnio, a hipocrisia e o cinismo. Um aconchegante lar para larápios, escroques e bandoleiros de variados tipos. Uma vergonha universal, um escárnio a toda ideia de civilização. O Brasil deixou de ser uma nação para se tornar um ajuntamento onde as pessoas se obrigam apenas a sobreviver, de qualquer maneira, a qualquer custo”.
Ficou curioso? Não gostou da reflexão? Então, fique convidado a conhecer o melhor clube londrino: “O Clube dos Canalhas”, escrito por Sarah MacLean. São segredos reunidos em quatro histórias envolventes de amor, ruína e desejo. E o associe aos canalhas do Brasil.
Se não tiver saco para uma leitura reflexiva, aconselho conhecer o documentário “O Processo”, da cineasta Maria Augusta Ramos. Quem o assistiu - como assentiu o jornalista Arnaldo César - garante ter ficado impressionado ao rever trechos do discurso do senador Roberto Requião, na sessão do Senado Federal de 30 de agosto de 2016. O senador começou o discurso reproduzindo as palavras de Tancredo Neves, em 1964, quando Áureo de Moura Andrade declarou vaga a presidência da República mesmo com o presidente João Goulart presente no País. Tal artimanha possibilitou que uma sanguinária ditadura militar governasse o Brasil por 21 anos seguidos. O que disse o senador é um primor de sutileza. No plenário, estava sentado o até então todo poderoso senador Aécio Neves (PSDB-MG), que ouviu calado Requião repetir três vezes: “canalha, canalha, canalha!”.
Afinal, por onde andam os canalhas que permitem privatizações nas estatais do porte da Petrobras Distribuidora, Eletrobrás e empresas com forte participação acionária da União?
Quem foram os canalhas que permitiram “Aquífero Guarani” - o maior do mundo - ser negociado com a Nestlé, a gigante suíça do setor de alimentos?
Por onde andam os canalhas que não se insurgiram contra Temer por ter revogado o “Fundo Soberano” que sacudiu e impressionou o mundo em 2008, que funcionava no Brasil como uma espécie de “colchão protetor” dos programas sociais?
Pior: Temer passou o dinheiro do fundo para os bancos sem mais e nem menos. Com o fundo, a população mais pobre ficaria protegida nas crises econômicas. Temer mandou repassar toda a dinheirama para os bancos privados a pretexto de reduzir a dívida do governo com as instituições financeiras. Uma verdadeira patifaria!
É incrível como os canalhas são incapazes de pensar em termos humanos. Um horror! Mesmo perdendo ou não usufruindo nada, sujam e lavam as mãos para a miséria brasileira. São cruéis! Frutos de histórias ruins! Aproveitadores, exploradores, pilantras,...! E que sacaneiam no amoral, sem noção; e no imoral, sem princípios e valores.
Miguel Dias Pinheiro é advogado