Música de jovem paraense viraliza com denúncia a exploração sexual em Marajó

Música "Evangelho de Fariseus" aborda problemas sociais e ambientais na ilha amazônica, gerando repercussão

Por Carlos Sousa,

Famosos têm usado suas plataformas nas redes sociais para disseminar denúncias de exploração sexual de crianças e tráfico de pessoas menores de idade na Ilha de Marajó, no Pará. O debate ganhou destaque após a cantora Aymeê apresentar sua música autoral "Evangelho de Fariseus" na semifinal do programa "Dom Reality", transmitido pelo YouTube, na última quinta-feira (15).

Foto: Reprodução/YoutubeAymeê
Aymeê

A letra da música faz menção direta a Marajó, expondo problemas sociais e ambientais na ilha: "Enquanto isso, no Marajó / O João desapareceu / Esperando os ceifeiros da grande seara / A Amazônia queima / Uma criança morre / Os animais se vão / Superaquecidos pelo ego dos irmãos".

Durante sua apresentação, Aymeê fez um alerta contundente, mencionando a normalização do tráfico de órgãos e a pedofilia na região. Segundo ela, é comum que crianças de 5 anos se prostituam em barcos turísticos por valores mínimos.

Aymeê ainda ressaltou a responsabilidade individual e coletiva em relação à situação, criticando a inércia da população brasileira diante do problema: "Jesus me fala que às vezes nós, cristãos, terceirizamos muito para o governo o que é de responsabilidade nossa, como cristãos".

Desde então, o assunto ganhou grande repercussão nas redes sociais, incentivando uma campanha liderada por figuras públicas. A ex-BBB e apresentadora Rafa Kalimann destacou a importância de dar voz a essa causa tão urgente e delicada.

Veja a apresentação:


 

Contexto Socioeconômico de Marajó

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do Brasil está registrado em Melgaço (PA), uma das ilhas do arquipélago de Marajó, com índice de 0,418. Em contrapartida, São Caetano do Sul (SP) lidera com um IDH de 0,862, o dobro do registrado em Melgaço. Esses dados são parte do levantamento mais recente realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2013.

O governo federal lançou em maio de 2023 o programa Cidadania Marajó, com o objetivo de enfrentar a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes na região. Esta iniciativa substituiu o projeto "Abrace o Marajó", criado durante o governo de Jair Bolsonaro, e visa promover atividades de escuta, atendimento à população e diagnóstico para implementação de respostas socioambientais.

Desinformação sobre o caso

O tema dos abusos sexuais em Marajó já esteve envolvido em acusações de fatos falsos. Em 2020, a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, gerou polêmica ao afirmar durante um culto evangélico em Goiânia (GO) que crianças estavam sendo traficadas e tinham seus dentes arrancados para evitar mordidas durante o sexo oral. Essas alegações foram posteriormente contestadas pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará.

Denúncias Antigas e Atuais

Há cerca de 18 anos, o bispo emérito de Marajó, Monsenhor Dom José Luiz Azcona, tem denunciado publicamente a exploração sexual de crianças na região. Em 2006, ele formalizou uma denúncia ao governo federal e à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados sobre casos de adolescentes vítimas de exploração sexual em Portel (PA), também em Marajó.

Dom José Luis Azcona foi fundamental para a instauração da CPI da Pedofilia tanto na Assembleia Legislativa do Pará quanto no Congresso Nacional, nos anos de 2009 e 2010, respectivamente. Em 2015, ele novamente chamou atenção para o problema, destacando casos em que crianças se ofereciam para prostituição em balsas, muitas vezes com consentimento familiar.

Recentemente, em 2023, o bispo emérito recebeu um pedido para deixar a região, mas após protestos locais e intervenção da Prelazia do Marajó, a decisão foi revertida.

Fonte: O Globo

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