Caso Fernanda Lages: investigações se transformam em puro teatro e, por falta de identificação do assassino, MP pede arquivamento da ação

Morte da estudante completa nove anos nesta terça-feira

Por Redação do Portal AZ,

Nos quartéis, as tropas iniciavam o dia perfiladas para festejar o nacionalmente consagrado Dia do Soldado. Em uma casa em algum lugar de Teresina e em outra, na cidade de Barras, o dia se iniciava com a pior das notícias: sobre o corpo estendido no chão, na obra do Ministério Público Federal, na Avenida João XXIII, imediatamente identificado como sendo da jovem estudante Fernanda Lages. Ela foi covarde, cruel e friamente assassinada, mas, eis que, nove anos após atabalhoadas, equivocadas investigações das Polícias Civil e Federal, o Ministério Público resolve comunicar ao público que estava encerrando a ação, portanto, sugerindo à Justiça o seu arquivamento por falta de indiciamento de culpados.

Fernanda Lages (Foto:reprodução/redes sociais)

O inquérito, comandado pela Cico (Comissão de Investigação do Crime Organizado), que de tantos equívocos praticados foi extinta, dando lugar ao Greco, está cheio de contradições. Inicialmente, se fez coro na Polícia Civil de que a estudante teria se suicidado, pulando da altura de 28 metros do prédio do MPF. Ao final, como se sabia da interferência política, a mesma Cico concluiu que Fernanda Lages ‘teve morte violenta’. O que a ‘interferência política’ fez que mudasse as coisas nas investigações somente o futuro dirá.

Em cena, a pedidos dos políticos e dos promotores, delegados da Polícia Federal vieram de outros Estados para apurar o caso. Também, em meio a muitas contradições, como foi o caso do ‘delegado Freitas’, em dizer para a família de Fernanda Lages requerer indenizações do Estado; e, também, revelar que o vigia da obra, ‘Seu Antônio’ era um mentiroso, a PF foi ainda mais confusa que a polícia civil. Para esses delegados federais, Fernanda ou morreu por acidente ou por suicídio.  

Contrários à tese de suicídio entraram em cena dois promotores de Justiça: Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral. A partir daí, com a polícia civil flagrantemente contrária a atuação dos promotores, o caso Fernanda Lages teatralizou-se. Cada lado tinha a sua versão e fazia disso o cavalo de batalha. Polícia e MP se agrediam na mídia e, por isso, nada se apurou, ou melhor, o que a polícia fazia, os promotores tentavam desconstruir e o que os promotores sustentavam, como ‘morte violenta’, por assassinato, a polícia civil tentava jogar para debaixo do tapete.

A opinião pública rapidamente formou seu entendimento sobre o crime e, por consequência, sobre suposto criminoso. Até hoje, entretanto, como a polícia não apontou ninguém e os promotores de Justiça terminaram abandonando o caso, a ação penal tende mofar nos arquivos do esquecimento, sendo enterrada, como fizeram com a estudante.

Entenda o caso

Ainda no início da manhã do dia 25 de agosto de 2011, a estudante do curso de Direito Fernandes Lages foi encontrada por operários na obra do prédio da sede do Ministério Público Federal, localizado na Avenida João XXIII, bairro Noivos, zona Leste de Teresina. O corpo da estudante possuía vários ferimentos.

O 5º Distrito Policial foi acionado e deu início às investigações. A Perícia Criminal encontrou pedaços de paus e uma barra de ferro, além de restos da construção que alimentaram a tese de homicídio. De início, a hipótese de que Fernanda Lages havia sido morta por crime passional pelo ex-namorado foi descartada.

Estudante foi encontrada morta em 25 de agosto de 2011 (Foto: reprodução/redes sociais)

Alegando falta de estrutura, o delegado Mamede Rodrigues, até então titular do 5º DP, transferiu o caso para a antiga CICO . Ao todo cinco delegados especializados em Crime Organizado passaram a investigar sobre a morte da estudante. Funcionários da obra, além de pessoas próximas a Fernanda Lages foram ouvidos.

Quase um mês depois da morte de Fernanda, o médico legista Antônio Nunes, do Instituto Médico Legal (IML) de Teresina, revelou detalhes sobre o laudo cadavérico da estudante, afastando quase que totalmente a possibilidade de Fernanda ter cometido suicídio. O legista afirmou que a morte da estudante foi causada por traumatismo craniano e que ela recebeu pancadas em sequência que provocaram várias lesões espalhadas pelo corpo.

A policia civil, entretanto, concluiu que Fernanda teve ‘morte violenta’, enquanto a polícia federal encerrou o seu inquérito admitindo que Fernanda ou teria se jogado do alto do prédio ou caiu acidentalmente. 

O ministério Público, através dos promotores de Justiça Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha não aceitaram os resultados das investigações e admitiram que Fernanda Lages foi assassinada. 

Pais de Fernanda Lages

A demora na elucidação do caso juntamente com a suspeita de que a estudante na verdade teria se jogado da mureta da obra só aumentaram a indignação de amigos e familiares que realizaram protestos na cidade para pressionar a celeridade das diligências. Com isso, o Ministério Público entrou no caso e passou a apurar a morte de Fernanda.

Pais de Fernanda Lages (Foto:reprodução redes sociais )

Além do promotor de Justiça João Mendes Benigno Filho, que já havia sido designado inicialmente, Ubiraci de Sousa Rocha e José Eliardo de Sousa Cabral foram nomeados para acompanhar o inquérito, já que tanto o Ministério Público Federal, quanto a OAB-PI cobraram mais rigor do órgão no acompanhamento do caso.

Promotores Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral

Ubiraci Rocha chegou a fazer afirmações polêmicas sobre o caso e disse acreditar que os vigias da obra do Tribunal Regional do Trabalho estivessem omitindo dados. Em depoimento um dos vigias alegou ter problemas de visão e por isso não conseguiu enxergar com exatidão a pessoa que abriu a porta da obra na madrugada em que a jovem foi morta. Ele afirmou ainda não poder reconhecer se era ou não uma pessoa de seu convívio profissional.

Para contribuir com as diligências, a polícia e o Ministério Público fizeram uma reprodução simulada do caso Fernanda Lages. Embasados em depoimentos, reproduziram os passos da estudante entre o Bar Pernambuco e a obra do Ministério Público Federal (MPF). A preparação para o procedimento começou às 03h da manhã e se estendeu por quatro horas.

Promotores Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral (Foto:reprodução internet )

Seis amigos que estiveram com Fernanda na madrugada de 25 de agosto participaram da simulação. Uma policial com o mesmo tipo físico e trajando roupa e calçados semelhantes aos usados por Fernanda no dia do crime interpretou a estudante.

A pedido da Comissão Investigadora do Crime Organizado (Cico), quatro pessoas tiveram prisão temporária suspeitas de envolvimento com a morte da estudante, mas uma semana depois foram soltas. Dentre elas, funcionários das obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e do Ministério Público Federal (MPF).

Dois meses depois, por solicitação do governador Wilson Martins, a Polícia Federal entrou no caso da morte de Fernanda Lages. Uma das primeiras ações da PF foi a exumação do corpo de Fernanda que chegou a ser levado para análise em São Paulo e Brasília.

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