Pobreza menstrual: um debate necessário, mas negligenciado pela sociedade
Dados estimam que uma pessoa que menstrua gasta até R$ 6 mil reais ao longo de sua vida com a compra de absorventes
Pobreza ou precariedade menstrual é o nome dado à falta de acesso de meninas, mulheres e homens trans a produtos básicos e a ausência de infraestrutura dos ambientes que frequentam. Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que a saúde menstrual é um direito humano que deve ser tratado como diretriz de saúde pública.
No entanto, quem vivencia essa realidade sabe que o contexto é um tanto desconfortável. As condições socioeconômicas e a falta de infraestrutura dos ambientes frequentados por essas pessoas são impulsionadores desse problema.
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Apesar de estar presente na vida de mulheres e homens trans desde a puberdade, o assunto ainda é pouco debatido pela sociedade brasileira, pois não há uma preparação para esse processo biológico e, na maioria dos casos, os indivíduos que vivenciam essa situação são surpreendidos.

As estudantes Vitória Marques e Assislene Carvalho, ambas com 22 anos de idade, compartilharam como foi vivenciar a sua primeira menstruação. Marques diz que já tinha notado um pouco do processo através da sua mãe, mas quando aconteceu consigo, ela não soube lidar de cara.
“Eu menstruei pela primeira vez com 15 anos. Para ser sincera, eu não sabia muito sobre, via minha mãe passando por isso, mas eu não tinha informação. Minha mãe nunca foi de me falar também sobre essas coisas íntimas. Quando menstruei, fiquei surpresa e sem entender muito, não sei explicar, mas não me ‘toquei’ de primeira nem comecei a usar o absorvente”, inicia.
“No dia que comentei com a minha mãe, ela me mandou usar o absorvente, mas eu não tinha informação de qual era o melhor absorvente, como usar, se era com abas ou não. Então, para mim, foi algo muito novo, ainda nas primeiras menstruações eu já sentia cólica, não queria ir para a escola e ainda não conseguia me acostumar. Hoje, com a consciência de uma pessoa adulta, eu já sei como lidar. A falta de informação pesou muito, uma coisa que poderia ter sido mais debatida em minha casa e também mais orientada nas escolas, pois tabu não é.”, conclui.
O caso de Assislene não foi diferente, a jovem relata que também não tinha o menor conhecimento do assunto e a escassez de debate foi o maior impasse para ela.
“Na minha primeira vez, eu não estava preparada porque não é um padrão. Quando você menstrua pela primeira vez, você espera ver o sangue e, para mim, não foi desse jeito. Eu estava sozinha em casa quando aconteceu, somente após minha mãe chegar eu consegui lidar. Se eu soubesse um pouco sobre o assunto, eu poderia ter lidado sozinha, mas não sabia nada. Se eu tivesse tido educação sexual de forma mais efetiva, acredito que coisas fossem mais tranquilas de se resolver”, pontua.
Além da falta de informação, um dos maiores fatores que implicam na saúde menstrual são os desafios socioeconômicos. Lívia Carvalho, professora de Enfermagem especializada em pobreza menstrual, ressalta que “as estimativas científicas prevêem 20 anos de período menstrual. Esse ciclo se repete mensalmente, então, o gasto financeiro é recorrente”, diz a professora.
Ainda segundo Assislene, em sua percepção, o absorvente parece ficar “cada vez mais caro” e o assunto permanece sendo “negligenciado” por debates de políticas públicas.
Fonte: Portal AZ