Campanha revela as novas facetas do trabalho análogo a escravidão no Brasil
CPT destaca que 82,6% das vítimas resgatadas entre 2016 e 2023 são negras
Durante o mês da Consciência Negra, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) realiza a campanha "De Olho Aberto para Não Virar Escravo", com o objetivo de conscientizar sobre o trabalho análogo à escravidão no Brasil. Dados da CPT revelam que 82,6% das vítimas resgatadas entre 2016 e 2023 são negras, com 16,8% de pretos e 65,8% de pardos. A campanha destaca que a prevalência de negros entre as vítimas está diretamente relacionada ao contexto histórico e estrutural do país.
Entre as mais de 12 mil pessoas resgatadas durante esse período, aproximadamente 3,2 mil vítimas foram liberadas em ações coordenadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com o apoio de auditores fiscais do trabalho. A maioria das vítimas é do gênero masculino, com baixa escolaridade, e originária de estados do Nordeste. Além disso, a faixa etária predominante é entre 18 e 24 anos, o que reflete a vulnerabilidade de jovens em situação de extrema exploração.
A pesquisa também aponta que, apesar de o número de mulheres resgatadas ser menor, as mulheres negras representam quase 80% desse grupo. A predominância de trabalhadores e trabalhadoras negras é particularmente notável em setores como a pecuária, lavouras e carvoarias. A CPT destaca, no entanto, que nos últimos anos as lavouras passaram a registrar mais casos de trabalhos análogos a escravidão do que a pecuária, com destaque para os casos em canaviais.
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A campanha também aborda a exploração no ambiente doméstico, com exemplos alarmantes de abusos em residências e estabelecimentos comerciais. Especialistas apontam que a fiscalização desse tipo de caso é desafiadora, pois os patrões frequentemente alegam que as vítimas são "parte da família", dificultando a intervenção das autoridades. A CPT, através de programas como a Rede de Ação Integrada para Combater a Escravidão (Raice), busca também acolher as vítimas e ampliar a reflexão social sobre as causas culturais da escravidão. Denúncias podem ser feitas por meio do Sistema Ipê.
Fonte: Agência Brasil