Trégua entre PCC e Comando Vermelho chega ao fim após dois meses

Ruptura entre facções foi causada por disputas locais e falta de comando unificado.

Por Viviane Setragni,

Chegou ao fim a breve trégua entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), anunciada em fevereiro deste ano. A informação foi confirmada pelo Ministério Público de São Paulo, que teve acesso a comunicados internos — os chamados “salves” — trocados entre integrantes dos grupos.

Foto: ReproduçãoMarcola (PCC) e Marcinho VP (Comando Vermelho)
Marcola (PCC) e Marcinho VP (Comando Vermelho)

Segundo os textos divulgados nesta segunda-feira (28), o acordo foi rompido por “questões que ferem a ética do crime”, conforme escreveu o PCC. Já o CV alertou para o risco de assassinatos de inocentes, principalmente jovens que fazem sinais de mãos associados às facções, como os gestos com dois ou três dedos.

A aliança, que buscava reduzir os homicídios e os custos com a guerra entre os grupos, durou cerca de dois meses. A iniciativa foi costurada por lideranças presas, mas enfrentava resistência desde o início. De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o rompimento já era esperado.

Gakiya revelou que o chefão do CV, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, nunca teria aprovado oficialmente a trégua — o que fragilizou a tentativa de conciliação. Um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penais, de fevereiro, já apontava que Marcinho classificou o armistício como “fake news”.

Outro fator determinante para o rompimento foi a diferença na estrutura das facções. O PCC possui uma hierarquia rígida, com obediência centralizada. Já o CV atua de forma descentralizada, permitindo autonomia para lideranças locais, o que teria dificultado a aplicação da trégua em todo o país.

A rivalidade entre os grupos segue acirrada em diversos estados. Um levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em fevereiro apontou que nove estados, entre eles Minas Gerais, Amazonas e Ceará, chegaram a identificar indícios concretos da aliança. Em outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, as disputas nunca cessaram de fato.

Fonte: O Globo

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