R$ 2,2 milhões para asfalto na porta de casa: CGU e MPF investigam emenda

Fábio Teruel (MDB-SP), parlamentar e influenciador religioso, destinou verba federal para recapear ruas do Tamboré I, reduto milionário em Barueri onde ele, a esposa vereadora e a vice-prefeita moram

Por Max Melo,

A Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF) estão apurando a destinação de R$ 2,2 milhões em recursos públicos oriundos de emenda parlamentar do deputado federal Fábio Teruel (MDB-SP) para recapeamento de ruas no Residencial Tamboré I, condomínio de alto padrão em Barueri (SP), onde o próprio parlamentar mantém residência com a família.

Foto: ReproduçãoFábio destinou R$ 2,2 milhões em recursos públicos oriundos de emenda parlamentar para ruas de condominio de luxo onde vive
Fábio destinou R$ 2,2 milhões em recursos públicos oriundos de emenda parlamentar para ruas de condominio de luxo onde vive

Os recursos fazem parte de um montante maior — R$ 11 milhões — enviado por Teruel ao município por meio de emendas do tipo “Pix orçamentário”. Pelo menos oito vias internas do Tamboré I, bairro fechado com mansões de até R$ 50 milhões, receberam novo asfalto com a verba federal.

O escândalo ganhou luz pública após uma briga doméstica entre celebridades: a cantora Simone Mendes, também moradora do condomínio, foi criticada por Teruel nas redes sociais após o cachorro da família escapar pela terceira vez. O episódio expôs a localização do deputado e levou internautas e jornalistas a vasculharem o Portal da Transparência.

A pista leva à casa do deputado

Apesar de não declarar o imóvel à Justiça Eleitoral, Teruel mora no Tamboré I ao lado da esposa Ely Teruel, vereadora em São Paulo também filiada ao MDB. A vice-prefeita de Barueri, Cláudia Marques (PSB), igualmente reside no endereço. A configuração do caso levantou suspeitas de que a emenda tenha sido usada em benefício próprio — hipótese que pode configurar improbidade administrativa.

Por lei, parlamentares são proibidos de direcionar recursos públicos a projetos que favoreçam diretamente seus interesses pessoais. O uso da verba federal em vias que atendem exclusivamente aos moradores de um condomínio fechado, com controle de acesso e segurança privada, desafia o princípio da impessoalidade na administração pública.

Prefeitura e deputado se defendem

Em nota, a Prefeitura de Barueri alegou que as ruas recapeadas, embora dentro do Tamboré I, são consideradas vias públicas conforme registro oficial. A gestão municipal afirma que a aplicação dos recursos obedeceu aos critérios técnicos de desgaste viário e que o plano de recapeamento foi elaborado com base em laudos de engenharia.

O deputado, por sua vez, se disse satisfeito com a investigação. Em sua defesa, alegou que apenas indicou a emenda para o município, e que a responsabilidade pelo uso do recurso é exclusiva da prefeitura.

“Não houve destinação para condomínio. Indiquei recursos para infraestrutura urbana de Barueri, como faço com outros municípios”, declarou Teruel, que evita mencionar o cargo de deputado em seus perfis nas redes sociais, onde se apresenta como “criador digital” e evangelizador.

Asfalto seletivo

Relatórios preliminares obtidos por órgãos de controle apontam que a proporção de recapeamento no Tamboré I foi até 30 vezes maior que em bairros periféricos vizinhos. O caso reacendeu o debate sobre o uso discricionário das emendas parlamentares e a falta de critérios de equidade na distribuição dos investimentos públicos.

O condomínio Tamboré I é um dos endereços mais exclusivos do Brasil, abrigando artistas, empresários e políticos. O local é fechado ao público, e as ruas internas possuem nomes de cidades paulistas, como Ourinhos, Campos do Jordão e Sorocaba — justamente algumas das que receberam asfalto novo bancado com dinheiro público.

Investigação em curso

A CGU confirmou que sua Secretaria Federal de Controle Interno está analisando a documentação. Se for constatado desvio de finalidade, a apuração poderá culminar em auditoria formal e responsabilização do gestor municipal ou do parlamentar, a depender do grau de envolvimento.

O MPF, por sua vez, já foi acionado e avalia possível abertura de inquérito para apurar o uso da verba federal em área de interesse direto do deputado.

Do púlpito ao parlamento

Fábio Teruel, 54 anos, ganhou projeção como comunicador cristão em rádios populares. Com mais de 13 milhões de seguidores somando Instagram e YouTube, realiza eventos religiosos com forte apelo popular. Na Câmara, adota perfil discreto e evita discursos políticos — mesmo sendo o 14º mais votado de SP em 2022, com 235 mil votos.

Fonte: Portal AZ

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