Editorial: Ciro e Rafael — o coronel 5G e o gestor com Wi-Fi de padaria
E o povo? Ah, esse assiste ao espetáculo como quem revê novela das 6
O Brasil já não é para amadores, mas o Piauí é para roteiristas de realismo mágico. No Estado o poder muda de mãos, mas nunca muda de método. O novo capítulo da política local é estrelado por Ciro Nogueira, o coronel 5G do Centrão gourmet — com carpete persa e verniz de modernidade — e Rafael Fonteles, o gestor Wi-Fi de padaria, que fala em inovação enquanto segura a pasta do PAC como quem carrega um tablet sem sinal.
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Ciro é o passado que se atualizou via Bluetooth. Um mestre da costura política, que descobriu cedo que ideologia atrapalha a contabilidade eleitoral. Já Rafael é a vitrine de um futuro fake, onde “transformação digital” virou bordão publicitário e “desenvolvimento regional” é sinônimo de pitch com power point e selfie com prefeito.
Não se iluda: o confronto não é entre gerações, mas entre versões. Ciro ainda exala MDB da Nova República, só que com marketing de fintech e emendas. Rafael quer parecer disruptivo, mas pensa como burocrata que aprendeu Excel antes de aprender a improvisar com os empréstimos.
É o novo velho em loop.
E o povo? Ah, esse assiste ao espetáculo como quem revê novela das 6: sabe o roteiro, sabe quem morre, sabe quem finge chorar. Só não sabe por que continua assistindo.
Ciro aposta na resignação disfarçada de pragmatismo. Rafael vende sonho em suaves prestações, com taxa Selic embutida no rodapé do contrato social.
E eis o ponto: o Piauí, terra de poetas e retirantes, virou tabuleiro de um duelo cínico. Ciro é a institucionalização da esperteza: adaptável, impune, bem relacionado. Rafael é a tentativa de parecer nórdico num país onde falta soro fisiológico e sobra Pix bloqueado.
No fim das contas, talvez nenhum dos dois esteja propriamente errado. Um joga com as cartas marcadas. O outro acredita que dá pra vencer com regra de campeonato europeu. Um constrói pontes com empreiteiras. O outro edita discurso como se fosse filtro do Instagram.
Este duelo é, na verdade, o retrato do Brasil: um tentando não soltar o osso, o outro querendo pegá-lo sem sujar a mão. Governar, aqui, raramente é sinônimo de cuidar — é só mais uma forma de permanecer.
E como diria Gerald Thomas, tudo termina em panos quentes — porque neste “paisinho de quarto mundo”, o escândalo vira adereço de campanha e o político mais esperto — o que nunca foi sinal de ser honesto —, é sempre reeleito com discurso de salvação e o pobre…, ah! este luta para ter o pão na mesa até o fim da semana.
Fonte: Portal AZ