Deputado Jadyel caiu na malha da CPI do Tigrinho

Jadyel Alencar afirma que as transações foram “normais”, mas Coaf vê indícios de sonegação

Por Honorina Reis Mello,

O enredo é velho, mas o roteiro ainda espanta: um deputado movimenta milhões com um funcionário que, oficialmente, ganha R$ 7 mil por mês. Quem assina o papel principal agora é Jadyel Alencar (Republicanos-PI), empresário, parlamentar e mais novo nome do Piauí na lista de investigados com movimentações suspeitas identificadas pela CPI das Apostas Esportivas.

Foto: ReproduçãoJadyel Alencar
Jadyel Alencar

Segundo revelou a matéria de Nicholas Shore na Coluna Radar, da revista Veja, o nome de Jadyel apareceu no rastro de uma devassa do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre a conta bancária de Gustavo Mendes Lemos de Oliveira, funcionário das empresas do deputado. Só entre junho e dezembro de 2023, passaram mais de R$ 12 milhões entre as contas do parlamentar, de suas empresas e do funcionário.

A suspeita? Gustavo, com renda mensal declarada de R$ 7 mil, movimentou valores absolutamente incompatíveis com seu perfil econômico. O Coaf levanta a possibilidade de que ele esteja operando como testa de ferro, emprestando sua conta para ocultar a real origem e destino do dinheiro.

A trilha do dinheiro ficou bem desenhada não por migalhas de pão, mas muitas quantias fracionadas de dinheiro.

Segundo o relatório do Coaf, Jadyel Alencar, como pessoa física, transferiu R$ 5,2 milhões para o funcionário Gustavo Mendes Lemos de Oliveira e recebeu de volta R$ 3 milhões no mesmo período. A JSA Indústria de Alimentos, empresa ligada ao deputado, repassou R$ 3,5 milhões ao mesmo funcionário e recebeu dele R$ 3,7 milhões em depósitos fracionados. Já a Dimensão Distribuidora de Medicamentos, também do grupo empresarial de Jadyel, recebeu R$ 553 mil em 45 transferências feitas por Gustavo.

Mas o buraco é mais fundo. A conta de Gustavo também recebeu R$ 300 mil da One Internet Group, empresa do já enrolado Fernando Oliveira Lima (Fernandin OIG), empresário investigado pela CPI e citado no relatório final com pedido de indiciamento por lavagem de dinheiro. Coincidência ou cadeia de conexões?

“Normalidade operacional”, diz Jadyel

Ao ser questionado, o deputado disse que tudo se trata de movimentações empresariais rotineiras, e que Gustavo era seu administrador financeiro, com plenos poderes para mexer nas contas da JSA e da Dimensão. Sobre os repasses da One Internet Group, disse que não tem qualquer ligação comercial com a empresa de Fernandin e que não pode comentar o que não lhe diz respeito.

Também afirmou que acompanha os desdobramentos com “serenidade” e que está à disposição das autoridades.

De rotina empresarial a caso de polícia?

O relatório oficial da CPI, apresentado pela senadora Soraya Thronicke, ignorou os dados do Coaf. Mas o senador Izalci Lucas fez o que se esperava: anexou o material em voto em separado, garantindo que as informações cheguem às mãos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

Se há algo a mais por trás desses repasses, ainda não se sabe. Mas já é certo que o caso ultrapassou as fronteiras da “rotina contábil”. E do Piauí para Brasília, a dúvida é inevitável: por que tantas transferências milionárias passaram por alguém com salário de classe média baixa?

A resposta, cedo ou tarde, vai cair no colo de quem investiga.

Fonte: Portal AZ

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