Ciro Nogueira critica Lula por corte de verba que Bolsonaro também fez

Ignorar o sofrimento decorrente de mudanças climáticas globais, com eventos climáticos extremos como cheias e secas, não parece ser uma questão a ser criticada apenas no governo de turno

O ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, o senador piauiense Ciro Nogueira publicou nesta terça-feira numa crítica ao que considera abandono do governo Lula ao Nordeste sob efeito de estiagem. Ocorre é que não há lugar de fala para ele neste caso. O governo do qual fez parte praticamente paralisou um programa federal de construção de cisternas. 

Foto: Kaio Lakaio/VEJACiro Nogueira
Ciro Nogueira

Ciro Nogueira publicou em seu perfil no X (ex-Twitter) que uma crítica ao que considera falta de ação do governo Lula em relação à seca no Norte e Nordeste, que é a maior dos últimos 40 anos segundo o Cemaden – Centro de Monitoramento de Desastres Naturais.

Segundo a visão do senador piauiense, “na bolha do PT 5, o 5º governo petista, prioridade é a Argentina: R$ 5 bi para o companheiro candidato de lá. Já no Brasil real grassa a seca e o Poder ignora. Se o nome do nordeste em seca fosse Argentina, choveria dinheiro. Como não é, recebe é desprezo.”

Ignorar o sofrimento decorrente de mudanças climáticas globais, com eventos climáticos extremos como cheias e secas, não parece ser uma questão a ser criticada apenas no governo de turno.

No orçamento federal proposto por Bolsonaro para este ano, segundo informava a Folha de S. Paulo em 19 de setembro de 2022, o valor previsto para a construção de cisternas foi de R$ 2.283.326, o que corresponde menos de 500 equipamentos hídricos desse tipo.

Nos quatro anos do governo de um mandato só de Jair Bolsonaro, o governo reduziu e até paralisou a construção de cisternas no Nordeste, conforme informa já citada reportagem da Folha de São Paulo, assinada pelo colunista Carlos Madeiro, em 25 de setembro do ano passado.

Madeiro informa que entre 2003 e de 2018, o governo federal entregou 929 mil cisternas no Nordeste. Nos quatro anos da gestão Bolsonaro, foram somente 37,6 mil cisternas entregues.

Antes da reportagem da Folha, O Estado de S Paulo, em 16 de agosto de 2022, informava que o governo Bolsonaro gastou R$ 1,2 milhão em obras hídricas no Nordeste, mas tanto dinheiro não resultou em água para quem precisava. 

E a reportagem do Estadão começa justamente citando a cidade de Oeiras, primeira capital do Piauí, em cuja “zona rural famílias de pequenos agricultores ainda enfrentam o velho drama da falta de acesso à água potável. Não deveriam. O município foi um dos contemplados por uma “força-tarefa das águas” anunciada pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para o Nordeste e o norte de Minas. Dois anos depois, no entanto, poços abertos pelo programa estão lacrados. As obras pararam pela metade e bombas de retirada de água não foram instaladas.”

Em editorial, citando sua própria reportagem, o Estadão citou as cidades de Oeiras e Alagoinha, no interior do Piauí, onde se “encontrou um deserto de obras para abertura de poços inacabadas, muitas delas abandonadas definitivamente”. Diz ainda que “em cidades que foram contempladas pela “força-tarefa das águas”, anunciada com pompa por Bolsonaro há cerca de dois anos, hoje há poços furados, porém, lacrados ou desprovidos de equipamentos adequados para captação e transporte da água para localidades mais altas e distantes.”

Assim, parece que em termos de abandono, pouco caso, omissão, negligência e coisas do gênero em relação a questões climáticas e os sofrimentos impostos, as críticas precisam ser revistas. Como dizia o ex-senador Heráclito Fortes, não se deve jogar um balaio de pedras para o alto porque o risco de ser atingido por elas é real. Parece o caso da crítica de Ciro Nogueira ao governo de turno.

Os links das reportagens da Folha e do Estadão:

Governo Bolsonaro corta e para maior programa de acesso à água do NordesteGoverno Bolsonaro para maior programa de acesso à água do Nordeste (uol.com.br).

Esquema dos poços: Governo Bolsonaro gasta R$ 1,2 bi para fazer perfurações e não entrega água no NE 

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