O Brasil avança a passos largos rumo a um passado nada glorioso
O Brasil avança a passos largos rumo a um passado nada glorioso
Uma das premissas fundamentais do nazismo e do fascismo se assenta sobre a volta de um passado glorioso. No Brasil, o governo de extrema direita, no poder desde 2019, não tem um mito para essa narrativa e, em vez disso, colocou o país em uma espécie de túnel do tempo, fazendo-o andar rápido rumo a um passado nada glorioso.
O Brasil de 2020 é um país menos liberal, menos democrático e menos tolerante – para dizer o mínimo. Estamos, no dizer do professor Denis Rosenfield. articulista de “O Estado de São Paulo”, “presenciando no País é um retrocesso civilizatório”.
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Rosenfield afirma que “o bolsonarismo, nome para designar um amontoado de ideias carentes de fundamentação, porém eficaz do ponto de vista do convencimento de uma parte da população, tem como uma de suas características principais o menosprezo da ciência e, por via de consequência, da liberdade. O desrespeito ao outro é total, tanto do ponto de vista científico quanto moral, este último se traduzindo pela ausência de compaixão e pela banalização da morte.”.
Então, conforme lembra o articulista, estamos diante de um movimento de extrema direita que claramente não pode ser confundido com a direita conservadora e da direita liberal, que prezam a ciência, a moral, o debate livre a democracia, a despeito, muitas vezes, de divergências sobre o significado desses conceitos.
Bem, isso posto, notem-se os exemplos pelo mundo no atual momento, em que líderes se despem dos preconceitos e abraçam os avanços civilizatórios e as transformações sociais sobre as quais não é possível exercer controles – ainda que muitos tentem, em vão, mas tentem.
Primeiro-ministro da Irlanda com o namorado num domingo de sol (Foto: reprodução/Instagram)
Enquanto pensava neste texto, na segunda-feira, vi no Twitter um post da jornalista Socorro Sampaio, correspondente do Meio Norte na Europa. Socorro postou uma foto do primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar “aproveitando o domingo de sol com o namorado em um parque em Dunblin”.
O fato de a Irlanda ter um primeiro-ministro abertamente homossexual, que vai ao parque tomar sol com o namorado é realmente um exemplo muito bom de quanto o Brasil anda para trás em vez de estar indo adiante na marcha civilizatória. O governo atual do Brasil é machista, misógeno, homofóbico e xenófobo.
A Irlanda, como o Brasil, é um país majoritariamente católico, sendo a religião parte fundante da identidade nacional, o que, evidentemente, o coloca como um ambiente mais conservador. Não é, pelo que se percebe. Poderia ser xenófobo, o que também não parece ser o caso, já que o seu primeiro-ministro tem ascendência indiana.
Mas vá lá, alguém pode queixar-se que escrevi sobre um gay que administra um país e que isso certamente poderia decorrer do fato de o partido do premier ser de esquerda. Errado. O partido de Varadkar é centrista.
Tudo bem, então o leitor pode pedir que se ofereça um exemplo de um cara que o cônjuge seja uma mulher, como exemplo de avanço civilizatório. Ok! Oferece-se o presidente da Áustria.
Presidente da Áustria, que pediu desculpas por ficar mais do que a hora permitida em um restaurante (Foto: reprodução/Instagram)
Alexander Van der Bellen, que há coisa de uns três dias pediu desculpas por ficar em um restaurante além das 23h, horário de encerramento definido pelo governo na luta contra o coronavírus. Ele estava com a esposa e dois amigos num restaurante italiano em Viena.
"Saí pela primeira vez desde o confinamento com dois amigos e minha esposa", escreveu Van der Bellen no Twitter neste domingo. "Ficamos conversando e perdemos noção do tempo. Sinto muito. Foi um erro", disse o chefe de estado da austera Áustria.
Vocês acreditariam na possibilidade de um presidente brasileiro, sobretudo o atual, apresentar o mesmo pedido de desculpas? Eu não!
Diante dos dois exemplos colocados, não há dúvidas em mim de que, se a gente apertar o passo, poderemos estar contemplando em breve as caravelas de Cabral aportando no Brasil, no dia 22 de abril de 1500. Mas naquele dia, apesar de os índios estarem “com suas vergonhas de fora”, ninguém teve que ficar ruborizado com palavrões pronunciados à exaustão cinco séculos adiante.