O Piauí precisa fazer mais obras hídricas se quiser ter melhor futuro
Não dispor de barragens é abrir mão de bilhões de litros de água que podem, devem e precisam ser estocados
Em um mundo plano, não sob o olhar bovino de extremistas, mas no escopo da ideia cartesiana de que a menor distância entre dois pontos é uma reta, é correta demais a posição do governador do Piauí, Rafael Fonteles, do PT, de buscar se não os investimentos, ao menos o olhar interessado dos investidores no Piauí. Talvez por isso, a sugestão igualmente cartesiana de ampliar os estoques de água de superfície no Piauí também possam parecer uma extravagância. Mas o que o que tenho para hoje.
Quero humildemente pedir que o governador do Piauí, que corretamente olha para fora à cata de investimentos, também lance seu olhar sobre o potencial hídrico que se desperdiça a cada temporada de chuvas. Nestes três primeiros meses de 2024, uma dezena de notícias ruins envolveram uma coisa boa: a água em abundância no sertão – nas várzeas e chapadas, no dizer de Francisco da Costa e Silva no poético hino que compôs para o Piauí.
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A última dessas notícias deu-se em Caridade do Piauí, cidade perdida nos rincões do Território da Serra da Capivara, onde a água em excesso levou a vida de um jovem engenheiro.
O rompimento e transbordamento de pequenas barragens, a força das águas levando estradas e isolando populações, as enxurradas causando danos a roçados ou criando cenas de crianças atravessando grandes lâminas de água para chegar à escola também têm sido recorrentes no noticiário local – em meio à indignação pontual que empana um questionamento necessário: por que não se retém esses estoques de chuva?
No semiárido, onde “chove para cima”, a temporada de chuvas é curta e com o aquecimento global se sujeita a ser concentrada ou irregular. Não mais de 700 milímetros se registram por ano – até menos. O bastante para se acumular água desde que haja barragens de pequeno, médio e grande porte.
O aquecimento global já deu sobejas provas de que pode haver redução dos níveis de precipitação no semiárido e, mais ainda, que as chuvas podem se converter em fenômenos climáticos extremos. Isso pode indicar, dizem os estudiosos e um bom número de exemplos – em chuvas que num espaço de 24 horas concentram até 20% dos 700 milímetros médios anuais de chuvas no semiárido.
Não dispor de barragens é abrir mão de bilhões de litros de água que podem, devem e precisam ser estocados como mecanismo de mitigação dos efeitos deletérios da recorrente falta de água no semiárido.
As tecnologias para construir barragens não fazem parte desses pacotes inovadores da economia do conhecimento, mas isso não cria embargo para sua construção. Pelo contrário. Deve o governo se valer do encontro de conhecimentos tecnológicos para prover o Piauí cada vez mais de estoques hídricos – que salvaguardam qualidade de vida e garantem água como insumo básico para a produção, sobretudo de alimentos.
Convém lembrar, por fim, que as últimas grandes barragens construídas no Piauí se deram sob o mandato do atual prefeito de Parnaíba, Mão Santa, que herdou os projetos do antecessor Freitas Neto. Vão-se quase três décadas sem um esforço do estado para ampliar a rede pública de estocagem de água.
Porém, pelo menos é o que se espera, o governo deve ter projetos e planos para uma expansão hídrica. Sem muito esforço sabe-se que há duas grandes barragens com obras em curso no Piauí – Deputado Ciro Nogueira, anteriormente chamada Tinguis, no rio do Matos, e Atalaia, em Corrente; sabe-se ainda que há dois projetos de barragens gigantescas para contenção de enxurradas, a de Castelo, no rio Poti, e de Milagres, no rio São Nicolau.
Também sem muito esforço, apenas com boas conversas com engenheiros e interessados no assunto, se sabe que o Piauí poderia montar um plano para a construção de centenas barragens nas áreas onde as chuvas concentradas causam estragos e até mortes, como a do jovem engenheiro levado por uma enxurrada improvável em Caridade do Piauí, onde a média anual de precipitação pluviométrica é inferior a 700 mm.