Menos pobres para que haja mais dinheiro a ser ganho

Menos pobres para que haja mais dinheiro a ser ganho

Com o título acima, publiquei na coluna Frente Ampla, edição do Jornal Meio Norte de 26 de janeiro de 2014, o texto abaixo, que pode guiar o leitor de agora a imaginar o quão é importante defender a democracia liberal do fascismo iliberal com a geração de empregos e melhor repartição da riqueza gerada por pessoas e empresas:

A repartição mais justa da renda é um antídoto contra os iliberais fascistas (Foto: reprodução internet)

O Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, apropriou-se do discurso de movimentos sociais anticapilitalistas. Os ricos muito ricos certamente descobriram que reduzir a pobreza é um forte mecanismo para se ganhar mais dinheiro.

Jeffrey Sachs, economista que defendeu choques de liberalismo extremado na América Latina, diz que “sociedades desiguais se comportam pior em muitas medidas”.

Sachs escreveu em 2005 um livro chamado ”O fim da pobreza”, no qual enumera uma série de ações – desde subsídios à agricultura familiar até combate a endemias – para reduzir os níveis de miséria em países subdesenvolvidos. Dinheiro para gerar mais dinheiro, afinal de contas.

O pensamento de Sachs corrobora as palavras do ministro da Indústria e Comércio da África do Sul, Rob Davies, para quem “uma classe média que se sinta parte da economia contribui para a estabilidade política". Ou seja, economia com mais gente ganhando dinheiro desestimula aventuras políticas estranhas, favorece a doçura das democracias liberais.

As duas assertivas e todo o discurso contra uma crescente concentração global da renda chega em boa hora. Espera-se que venha também com algum tipo de ação para tornar concretas as boas intenções.

UM estudo ofuscado por Davos grita a necessidade de mudanças: 62 milhões de empregos foram extintos pela crise financeira de 2008. Há mais que o Brasil de pessoas sem emprego: 208 milhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho - OIT.

A economia se recupera, mas os empregos evaporam ou se reduz a renda do trabalho, o que evidentemente amplia o ganho do capital. Isso parece bastante evidente no fato de que nunca como agora houve tanta concentração de renda, mesmo em países onde essa praga não era uma vergonhosa epidemia, como os Estados Unidos, onde 95% do crescimento gerado após a crise de 2008 ficaram nas mãos de 1% da população.

O estudo da OIT em conjunto com o Comitê da Universidade Oxford para Combate à Fome (Oxfam, na sigla em inglês) mostrou que o problema não está apenas na perda de postos de trabalho, mas na superconcentração da riqueza.

Segundo o estudo cerca de 10% da população mundial controlam 86% dos ativos do planeta. Os 70% mais pobres detém apenas 3%. O grupo de 1% mais rico tem renda 65 vezes superior aos 50% mais pobres.
Atualmente, os donos das 85 maiores fortunas do mundo somam um patrimônio de US$ 1,7 trilhão. Isso é a renda de metade dos demais terráqueos.

Esse jogo em que uns poucos ganham e a imensa maioria sustenta os ganhos deles precisa ter regras mudadas – para a riqueza chegue às mãos de mais pessoas, em um processo de acumulação menos concentrado.

Como sugere a Winnie Byanyima, diretora da Oxfam, a concentração de renda foi construída por um processo em que a elite econômica obteve dos políticos as regras para que no jogo econômico ela sempre vencesse o resto. De goleada.

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