Deus é mãe!
Deus é mãe!
As religiões monoteístas – que são somente três, até onde sei – germinaram um Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Judaísmo, Cristianismo e Islamismo têm em um Deus feito à imagem e semelhança do homem (não do ser humano, mas do gênero masculino) e assim, Deus conforme a crença monoteísta, é Pai. Não poderia, com efeito, ser Mãe, papel reservado subalternamente à mulher.
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Madonna del Prado, de Rafael: o Renascimento fortaleceu a ideia de Maria como uma divindade materna
O desenho das cosmogonias monoteístas não deixa espaço para vermos Deus como Mãe, apenas como Pai. Ora, como a Criação, sob o olhar da Biologia, tem por exceção e não por regra a reprodução assexuada, a expansão dos seres vivos somente se pode dar pela perfeita conjunção de dois gêneros. É claro que no terreno religioso a gente não pode discutir muito porque o Dogma se sobrepõe à Razão, e neste contexto, Deus pôde ser Pai sem que para sua Criação Humana primordial tenha tido uma Mãe. Deus, Pai, soprou nas narinas da Criatura masculina inaugural e fez-se a vida.
Temos, assim, nas escrituras sagradas do monoteísmo, a ideia inarredável de Deus como Pai, desde o Gênesis até, no caso do Cristianismo, os livros do Novo Testamento, que narram o sacrifício do Filho de Deus para salvar a humanidade.
Sendo Deus Pai, sob o olhar monoteísta, por que insistir em que poderia Ele ser Mãe? Volte-se ao olhar da Natureza, em que a maior parte vida não se faz ou não se reproduz se não pela existência também da Mãe – e neste sentido, parece adequado lembrar que as cosmogonias politeístas são mais acolhedoras à presença feminina, com divindades a representar a mulher e, sobretudo, a colocar a Mãe no papel divino.
Deus, no politeísmo, é diversidade, e, portanto, é também a representação da Mãe. Entre os gregos, por exemplo, Gaia era cultuada como uma divindade primordial, criada antes de tudo, capaz de dar à luz sozinha a Urano (o Céu), a Pontos (o mar) e tirar de suas entranhas as montanhas e tudo que no entorno delas existisse. Antes de Gaia era o Caos – algo que se a gente se despir do Dogma monoteísta vai enxergar no Gênesis.
Se em cosmogonias monoteístas Deus é uma representação de Pai, masculina, com efeito, não havendo espaço para a divinização da Mãe, sendo essa possibilidade existente apenas no politeísmo, que é a negação de Deus único (Pai, masculino), como a gente que se criou sob a cultura judaico-cristã pode crer em Deus Mãe?
Eu penso que é forçando as coisas mesmo. O Cristianismo católico e ortodoxo criou e mantém vivo o culto a Maria, mãe de Jesus. O culto mariano não faz do Deus cristão uma Mãe, mas diviniza uma mulher, fazendo dela uma representação maternal de Deus – a Virgem Maria, Nossa Senhora, cultuada de modo tão intenso quanto o próprio Cristo. Exemplo disso no Brasil é o culto a Nossa Senhora Aparecida, que tem até um feriado nacional em sua honra, ou ainda o Círio de Nazaré, no Pará, possivelmente uma data mais importante para os paraenses que o Natal.
No cristianismo ortodoxo, a Virgem Maria é consagrada como Theotokos a mãe de Deus, havendo um culto paralelo ao do próprio Cristo. Ao se ouvir o nome de Maria os fiéis fazem uma inclinação na cabeça em direção ao ícone da Mãe de Deus, dirigindo-lhe uma saudação. A devoção mariana dos cristãos ortodoxos se firma na diversidade de ícones em honra a Maria, ultrapassando inclusive os ícones do próprio Cristo.
O subterfúgio católico e ortodoxo no culto mariano traz para perto das pessoas uma representação maternal de Deus, que não deixa de ser Pai, mas com as celebrações à Virgem Maria, faz-se Mãe.