O risco da promessa vã ou o perigo de desmoralizar o planejamento
Washington Bandeira, disse que pretende introduzir a disciplina de Inteligência Artificial na grade curricular do ensino médio regular do Estado
Em uma entrevista à TV Cidade Verde, o secretário estadual da Educação, Washington Bandeira, disse que pretende introduzir a disciplina de Inteligência Artificial na grade curricular do ensino médio regular do Estado. É uma daquelas ideias sedutoras que mais parecem parte de uma lista de desejos do que uma proposta firmada na realidade da educação pública. Carrega nela o perigo da promessa vã e da desmoralização do planejamento.
A proposta do secretário da Educação pode exercer fascínio face ao debate sobre a inteligência artificial, mas embarra na fila de prioridades da educação pública. Colocar como disciplina na grande curricular algo que nem mesmo a maioria dos especialistas sabe ainda como ensinar encerra em si o risco a ideia morrer no nascedouro.
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Sou professor de História no CETI Lourival Parente. Não pretendo, não quero nem devo me considerar mais capaz de quem quer que seja para falar sobre educação pública, mas nos anos em que servi em sala de aula, percebi que há coisas prementes a serem feitas e que nunca são feitas ou porque não se quer fazer, ou, sobretudo, porque falta dinheiro para fazê-las. Uma delas é um bom ensino de TI com suporte de laboratórios de informática e acesso a internet de alta velocidade. A maioria, se não todas as escolas estaduais, não tem isso.
E olhe que não é a internet a coisa mais urgente nessa escola em que o secretário agora prega o ensino de AI como disciplina regular no ensino médio. Há coisas mais urgentes a serem feitas num espaço institucional em que o cobertor é curto. Exemplo é tornar mais cômodas as condições físicas das escolas estaduais transformadas em estabelecimentos de ensino de tempo integral. É certo que o dinheiro é curto e por isso essa tem que ser uma prioridade colocada à frente de tudo.
Se sob o aspecto físico é urgente e inadiável que as escolas estejam mais bem preparadas para jornadas de tempo integral, também é igualmente urgente que se ofertem aos estudantes melhor prática esportiva; aulas de arte (teatro, dança, música, desenho e pintura), que se amplie a oferta de acervos nas bibliotecas.
É evidente que não se pode criticar a dificuldade de atendimento dessas demandas porque qualquer um sabe que há limitações orçamentarias e isso é um impeditivo poderos demais às melhorias em todas as áreas do serviço público. Daí porque ao propor estudar algo novo, o secretário da Educação comete um erro, já que convém muito mais estudar o que classicamente dá às pessoas meios para descobrir a inovação e, nesse contexto, descobrir e si mesmas seus talentos e aptidões.