O Ceará levou uma rasteira do Piauí? Não. O Piauí ganhou por mérito

É preciso lembrar, então, que não existe “rasteira” quando há vantagens comparativas

Um deputado estadual do Ceará, Felipe Mota (União Brasil), disse nesta semana que o Ceará levou “uma rasteira” na corrida pela produção de hidrogênio verde. Ele se referia ao fato de que, a despeito de esforços do governo cearense, a maior planta de produção de hidrogênio líquido com financiamento da União Europeia vai ser implantada no litoral do Piauí e não em Fortaleza, a capital cearense.
A fala de Mota dá-se em um contexto de decepção, denúncia e crítica. O deputado estadual referiu-se à rasteira como um ato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o governador cearense Elmano de Freitas, do PT. Falso.
O ato de Lula (que nunca se deu) favoreceria ao Piauí e ao seu governador, Rafael Fonteles, do PT, embora a decisão sobre o investimento não seja do presidente brasileiro, mas de quem tem os 2 bilhões de euros (R$ 10,6 bilhões) para colocar em negócios de transição energética no Brasil, ou seja, a União Europeia.
Tanto é assim que coube a Ursula von der Leyen, presidente da União Europeia, fazer o anúncio da instalação no Piauí de um parque de produção de hidrogênio e amoníaco limpos, com capacidade de produção de 10 gigawatt. Isso aconteceu durante uma semana sobre o tema em Bruxelas, na Bélgica, onde esteve o governador do Piauí, para participar do mesmo evento.
Por hidrogênio e amoníaco limpos ou verdes, entenda-se essas commodities geradas com a eletrólise da água realizada com energia de fontes limpas, solar e eólicas. E está neste ponto uma boa explicação para que tenha sido o Piauí e não o Ceará o local escolhido para o parque de produção.
Assim, é preciso lembrar, então, que não existe “rasteira” quando há vantagens comparativas. Desde David Ricardo, com efeito, quem minimamente conhece economia sabe que por ter essas vantagens podem levar um país a produzir mais e melhor alguma coisa, com a menor custo. Bem simples, então.
Ora, se o Piauí tem água em maior quantidade que o Ceará e a energia limpa em maior escala que o vizinho, é evidente que tem como gerar a menor custo o hidrogênio líquido limpo ou verde. 
Então, a ideia da rasteira, simplista, pode ser trocada pela da existência de melhor relação de custo e benefício no processo produtivo deste novo combustível, o que indica, portanto, que há menos rasteira e mais mérito do Piauí por suas vantagens comparativas.

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