Mercado de trabalho formal ainda rejeita pessoas trans e dificulta oportunidades
No Dia da Visibilidade Trans, Bruna Valeska relata desafios para conseguir emprego estável
No Brasil, a discriminação contra pessoas trans continua sendo um obstáculo significativo para a inclusão no mercado de trabalho formal. Mesmo quando conseguem uma vaga, muitas enfrentam tratamento desigual, contratos temporários e promessas não cumpridas por empresas que querem apenas melhorar sua imagem de diversidade.

No Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado hoje (29), a história de Bruna Valeska representa a realidade de muitos profissionais trans. Há mais de um ano desempregada, Bruna foi demitida de uma loja de cosméticos sem receber a rescisão contratual e, desde então, não conseguiu se reinserir no mercado.
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“Fui convidada para trabalhar nessa empresa com a promessa de um salário alto e bolsa de estudos para terminar a faculdade em Química. E em apenas quatro meses me mandaram embora”, relata Bruna. “E isso é uma constante. Eles contratam pessoas transexuais para trabalhar temporariamente e garantir o selo de empresa inclusiva”.
Além da dificuldade de conseguir emprego, muitos profissionais trans enfrentam rigor excessivo na contratação, desigualdade salarial e falta de oportunidades de crescimento dentro das empresas.
Não adianta criar uma vaga específica para pessoas trans e você descobrir que, na mesma empresa, outras pessoas têm a mesma função com salários maiores”, explica Bruna.
Bruna já trabalhou em diferentes setores, como auxiliar de cozinha, e tem cinco anos de experiência na carteira de trabalho. No entanto, percebe que empresas exigem mais de funcionários trans do que dos demais.
Diante desse cenário, algumas iniciativas tentam abrir espaço para a população trans no mercado de trabalho. Um exemplo é a Roda de Empregabilidade, evento promovido pelo Instituto Rede Incluir no Rio de Janeiro, que oferece mais de 100 vagas em áreas como comércio, serviços gerais e manutenção.
Além das oportunidades de emprego, o evento proporciona orientação profissional e preparação para entrevistas, ajudando a reduzir as barreiras enfrentadas por esses profissionais.
Para Nélio Georgini, coordenador de Diversidade e Inclusão do instituto, o problema vai além das contratações. “O mundo é muito binário, costuma pensar apenas em questões como preto ou branco, homem ou mulher. E tudo que foge ao binarismo, a sociedade tende a refutar. E o mercado de trabalho historicamente se fecha para as pessoas trans. Elas têm dificuldades como um todo. Acessar políticas públicas é sempre difícil. E quando você fala de empregabilidade, as condições ainda são precárias”, ressalta.
Mesmo com algumas empresas adotando políticas de diversidade, a inclusão de pessoas trans ainda enfrenta resistência e retrocessos. Nélio lembra que, internacionalmente, algumas corporações têm reavaliado e reduzido programas de inclusão, o que impacta diretamente as oportunidades de empregabilidade trans.
“Estamos em um momento decisivo em que as empresas precisam se posicionar sobre a nossa pauta. Porque é fácil fazer isso quando existe um apelo popular e esse posicionamento melhora a imagem da corporação. Mas, nas dificuldades, é que precisamos que as empresas façam parte dessa resistência também, para trazer dignidade às pessoas trans, independentemente do contexto político”.
Enquanto isso, Bruna segue buscando um emprego formal que valorize sua trajetória e seus conhecimentos.
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Fonte: Agência Brasil