No Brasil mais de 340 mil internações ocorreram por falta de saneamento em 2024

Crianças e idosos foram os grupos mais afetados por doenças relacionadas ao saneamento

Por Carlos Sousa,

O Brasil registrou mais de 344 mil internações em 2024 por doenças associadas ao saneamento ambiental inadequado, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Trata Brasil nesta quarta-feira (19), em antecipação ao Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. Dentre essas hospitalizações, 168,7 mil foram decorrentes de infecções transmitidas por insetos vetores, com destaque para a dengue.

Foto: Fernando Frazão/Agência BrasilPrecariedade no saneamento básico

Em segundo lugar, aparecem as doenças transmitidas por via feco-oral, como gastroenterites virais, bacterianas ou parasitárias, que contabilizaram 163,8 mil casos. Essas enfermidades têm forte relação com a falta de saneamento básico, pois são causadas por organismos presentes nas fezes de pessoas infectadas e disseminadas por meio da água contaminada e da falta de higiene adequada.

Regiões mais afetadas

A pesquisa revelou que algumas regiões apresentam situação mais crítica. O Centro-Oeste teve a maior incidência de internações no país, com 25,5 casos a cada 10 mil habitantes, impulsionados pelo surto de dengue. O Norte do Brasil também registrou altas taxas, especialmente em doenças transmitidas por via feco-oral, com 14,5 internações a cada 10 mil habitantes, o dobro da média nacional.

Os estados com os piores índices foram o Amapá (24,6 internações por 10 mil habitantes) e Rondônia (22,2 por 10 mil). No Nordeste, a taxa geral ficou próxima à média nacional, mas a região também se destacou negativamente em relação às transmissões feco-orais. O Maranhão teve um índice alarmante de 42,5 internações por 10 mil habitantes, seis vezes maior que a média nacional.

Populações mais vulneráveis

As doenças relacionadas ao saneamento afetam de maneira desproporcional as populações em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica. Em 2024, 64,8% das internações foram de pessoas pretas ou pardas. Embora os indígenas representem apenas 0,8% do total de hospitalizações, a incidência entre eles foi de 27,4 casos por 10 mil habitantes.

Crianças e idosos são os grupos mais impactados. Cerca de 70 mil hospitalizações ocorreram entre crianças de até quatro anos, correspondendo a 20% do total. Nessa faixa etária, a taxa de internações foi de 53,7 casos por 10 mil habitantes, três vezes maior do que a média nacional. Entre idosos, foram registradas 80 mil internações, correspondendo a 23,5% do total, com incidência de 23,6 por 10 mil habitantes.

O Instituto Trata Brasil estima que, com a ampliação do acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário, as taxas de internação poderiam ser reduzidas em até 70%, gerando uma economia de R$ 43,9 milhões anuais ao sistema de saúde público.

Mortalidade e estagnação em algumas regiões

O estudo também analisou a mortalidade relacionada ao saneamento ambiental. Em 2024, foram registrados 11.544 óbitos por doenças desse tipo, sendo 5.673 causados por infecções feco-orais e 5.394 por doenças transmitidas por insetos vetores. Embora o número de mortes tenha diminuído entre 2008 e 2023, em 1.748 municípios houve um aumento desse índice.

Os idosos foram os mais afetados, representando 76% das mortes em 2023, com 8.830 óbitos. Em relação às etnias, os indígenas tiveram uma taxa de mortalidade quatro vezes superior à da população em geral, apesar de apresentarem um menor número absoluto de casos.

O estudo reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura de saneamento para reduzir as doenças e mortes evitáveis, aliviando também os custos para o sistema de saúde brasileiro.

Fonte: Agência Brasil

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