A decadência da maternidade

A decadência da maternidade

O Piauí continua sendo um estado onde as tragédias que atingem sua população a discussão que permeia o fato se limita aos efeitos e não às causas. Recentemente, uma decisão do Ministério Público conseguiu que a justiça interditasse parte do prédio da Maternidade Evangelina Rosa. Até onde se sabe o prédio da maternidade é formado por componentes montados à semelhança dos equipamentos de logística do exército, como pontes ou alojamentos temporários, e não por paredes de concreto.

Em algumas de suas entrevistas sobre o tema, o engenheiro e político Alberto Silva chegou a dizer que as peças e componentes da maternidade que leva o nome de sua mãe foram construídas para durarem algum tempo até que uma nova fosse construída para substituí-la. Em 1988, em seu segundo mandato como governador, Silva chegou a anunciar e fazer o lançamento do projeto de construção de uma nova maternidade em Teresina. Seria ali onde hoje está erguido o condomínio Rio Parnaíba, na curva do Cfap.

De lá para cá os governos que sucederam Alberto Silva – e foram vários – nunca mais trataram sobre construir uma nova maternidade. O que chegou mais próximo foi o de Wellington Dias (o ano talvez foi o de 2003 ou 2004), quando o secretário de Saúde era Nazareno Fonteles. Na ocasião, a discussão sobre a necessidade de um novo prédio para a maternidade foi reaberta mas ficou nisto. Na época, Fonteles decidiu que a maternidade só receberia pacientes do SUS e indigentes, não mais particulares.

Até esta decisão de Nazareno Fonteles, 60% das parturientes da Maternidade Evangelina Rosa eram do vizinho estado do Maranhão, a maioria em trabalho remunerado, o que dava à ela um status financeiro independente e capacidade para bancar a sua manutenção sem depender de repasses da secretaria. Sem as gestantes do Maranhão, os recursos ficaram escassos e a maternidade passou a depender da pasta da saúde. Resultado: sem os repasses a estrutura do prédio foi se deteriorando.

Uma saída encontrada para melhorar os serviços na maternidade foi a transferência para o Hospital Universitário (HU), que à época (2005) não estava em operação. A idéia, porém, esbarrou na resistência do corpo médico da Evangelina Rosa e do próprio Alberto Silva (senador, na ocasião), que não aceitaram. O HU estava concluído mas não em uso e era a solução perfeita para transformá-lo em maternidade e com isso as pacientes ganhariam um local mais confortável para acolhê-las na hora do parto.

Rejeitada a solução, 14 anos se passaram e com ele a aceleração de processo de deterioração do velho prédio. Agora que o Ministério Público decidiu interditar parte do prédio para o atendimento, volta a discussão sobre a necessidade de o Piauí contar com uma nova maternidade. A complicação para que esse projeto venha a sair do papel está no fato de só pacientes do SUS e indigentes, que não têm poder de pressão, serem atendidos. Quem pode pagar opta por clínicas particulares que agradecem a Nazareno Fonteles por implantar a distinção na Evangelina Rosa, causando sua decadência.

 

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