Sem dar Bolsonaro não vai receber

Sem dar Bolsonaro não vai receber

O atual sistema político brasileiro impõe aos governos da República um conjunto de restrições à governabilidade, entre elas o apoio recíproco forçado ao qual o presidente é obrigado a se submeter na relação com o Congresso Nacional. Nos sistemas onde o parlamento é representado por três, quatro ou no máximo 5 partidos, no Brasil eles são mais de 30, ou seja, é um partido para cada uma “ideologia” fazendo com que o presidente seja emparedado para ter uma base de apoio ao seu programa de governo.

Foi assim desde o restabelecimento das eleições diretas para presidente em 1989, quando o país elegeu o ex-governador de Alagoas Collor de Mello, que tinha o epíteto de “Caçador de Marajás”, numa alusão à caça a servidores privilegiados naquele estado quando o governou. Em seguida veio Fernando Henrique. Diferente de Collor, que desprezou o parlamento (mais tarde a presidente Dilma Rousseff faria o mesmo), o tucano foi obrigado a ceder nacos de poder para garantir a governabilidade.

Entre Collor e Fernando Henrique, o Brasil empossou Itamar Franco, o vice do caçador de marajás, devido a vacância do cargo com o impeachment do primeiro. Com Lula e Dilma a situação não foi diferente principalmente quando crescia aceleradamente o número de partidos. Durante a era Lula eram 15 os partidos com acento no Congresso Nacional, enquanto no governo Dilma Rousseff e o atual de Michel Temer, o número foi de 28 para 35, pulverizando o sistema e dificultando a governabilidade.

Na era Jair Bolsonaro espera-se uma redução significativa no número de partidos no Congresso devido a entrada em vigor de novas regras que impuseram sérias exigências na cláusula de desempenho eleitoral e o fim das coligações a partir das eleições de 2020 (municipais). Mas esse processo ganhará força a partir de 2022, quando novas eleições gerais serão realizadas. A não ser que – que parece ser difícil – que os partidos voltem atrás, aquela eleição será o divisor para um novo quadro de representação partidária.

Sabendo disso é que o presidente eleito começou a assediar partidos para compor sua base parlamentar no congresso começando pelo MDB e PSD, este último tendo como inspiração os dogmas da Igreja Universal. Além de seu PSL, Bolsonaro já tem em sua base o DEM, o PR e a tendência é que o PSDB, empurrado pelo governador eleito de São Paulo João Dória Jr., ofereça apoio sem nada em troca. Alguns partidos, Bolsonaro está buscando apoio no varejo como é o caso do PP presidido por Ciro Nogueira.

Jair Bolsonaro já cooptou com ministérios alguns ex-integrantes como é o caso do ex-deputado Onyx Lorenzzoni e Luiz Mandetta, hoje no DEM. Partidos como o SD e PTB é só uma questão de conversas que já estão agendadas. Com sua base parlamentar montada, o presidente eleito dará o passo seguinte que é a eleição das Mesas da Câmara e do Senado. Com presidentes vinculados ao seu governo, ele espera ter uma maioria para aprovar todos os seus projetos. Mas é bom ter cuidado com essa maioria, pois sem dar nada com certeza não vai receber.

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