PT escolhe Haddad mas poderia ter sido Ciro

A escolha de Haddad é uma espécie de Plano B do PT

O PT fechou neste último dia de prazo para a realização das convenções a chapa que vai concorrer ao cargo de presidente da República daqui a 60 dias, escolhendo o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad como candidato a vice na chapa que tem Lula candidato a presidente. Incontinenti a isso fechou aliança com o PC do B que indicará sua ex-candidata, a deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila, para vice caso o registro da candidatura Lula seja indeferido.

A escolha de Haddad é uma espécie de Plano B do PT se o ex-presidente Lula for impedido de se candidatar. Mas essa escolha poderia ter sido do ex-ministro Ciro Gomes, candidato do PDT, se ele não tivesse abandonado a trincheira das esquerdas, assumisse a bandeira fincada no discurso anti-golpe de 2016 e buscasse alianças com o centro – que de centro não tem nada, é direita mesmo – achando que já tinha o nome viabilizado ao ponto de formar com independência um bloco de partidos.

Foi um erro na medida em que o ex-ministro não avaliou que no meio do caminho havia um governo golpista a impedir que os partidos com os quais Ciro negociava não tinham tanta independência assim como ele. Resultado: os partidos do centro foram obrigados pelo Palácio do Planalto a abandonarem a idéia de uma aliança com ele e fechar com o candidato do PSDB, principal aliado no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com isso, como se diz aqui no Nordeste, puxaram a escada e Ciro ficou pendurado com a brocha na mão.

Quando quis retornar ao ponto de partida encontrou as portas fechadas para ter ao seu lado uma frente de esquerda para alçar-lhe candidato do bloco. De longe, Ciro Gomes é um dos dois mais preparados candidatos para esta eleição mas faltou-lhe a capacidade de perceber que o PT, apesar da situação que o partido enfrenta, com processos e desgastes de imagem, ainda possui o protagonismo no campo da esquerda no Brasil e tem o poder de formular cenários dentro do quadro de disputas eleitorais.

Ora, o PT e Lula possuem mais de 1/3 do eleitorado nacional fato constatado pelas pesquisas de intenção de votos que já provaram até mesmo o pulo do candidato que Lula apoiar nas eleições. Em algumas oportunidades, o ex-prefeito de São Paulo subiu de 3% em cenário sem Lula para cerca de 17% quando mostrado como candidato do ex-presidente. Se Ciro tivesse se mantido fiel ao campo da esquerda, com o apoio do PT e de Lula poderia até mesmo está liderando hoje a corrida presidencial.

Não se sabe se na impossibilidade de Lula ser candidato e Haddad substituí-lo, o ex-prefeito de São Paulo venha a polarizar com o (ou os) candidato da direita mas com o cacife eleitoral de Lula é muito provável que mais uma vez uma disputa eleitoral colocando frontalmente PT e PSDB venha a acontecer, repetindo os cenários de eleições anteriores. Em todas – 2002, 2006, 2010 e 2014 – a decisão aconteceu no segundo turno. O PT escolheu Haddad mas poderia ter sido Ciro Gomes. Bastaria ele ter feito por merecer.

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