Espelho nada mágico

O desmascaramento de uma empresa que cobrava pela premiação de gestores trouxe à tona aquilo que já se suspeitava

Os ganhos políticos auferidos por agentes públicos e políticos para consolidarem uma imagem de bons gestores e bons representantes é que levam prefeitos, governadores a caírem no conto da premiação que muitas empresas de eventos promovem com o propósito de ganhar dinheiro. É uma espécie de gesto de mão dupla de “toma lá dá cá” onde cada uma das partes fica satisfeita e a premiada busca dar publicidade ao fato a fim de que a opinião pública venha a louvá-lo como um bom representante.

Não é de hoje que no meio jornalístico já se sabia e desconfiava quando a comunicação de um administrador público anunciava a premiação da prefeitura ou de determinada secretaria de estado ou município pelos programas desenvolvidos, sem saber que por trás disso é necessário pagar. É como um conto do vigário mais sofisticado para pegar incautos nas gestões públicas. A cada divulgação de uma premiação dessas já se suspeitava que o homenageado tinha de fazer um desembolso.

É óbvio que existe reconhecimento a programas desenvolvidos por órgãos públicos feitos por instituições reconhecidamente sérias e que não precisam de desembolso para realizar os eventos em que as premiações são entregues, como é o caso de organizações vinculadas às Nações Unidas ou de qualquer outro país. A Prefeitura de Teresina já foi contemplada por organismos internacionais por programas sem que isso necessitasse o gestor e pagar pelos prêmios a eles conferidos.

O desmascaramento de uma empresa que cobrava pela premiação de gestores trouxe à tona aquilo que já se suspeitava. A denúncia pelo Fantástico de que essa empresa chegou a outorgar um prêmio a um jumento levantou o manto de um tipo de golpe que há muito era dado, principalmente a prefeitos e seus auxiliares. Não importava ao prefeito se tinha de pagar. Ora, quando o prêmio pelo qual pagou servia para propagar seus feitos como gestor junto à população qualquer valor justificava.

Na estrutura político-administrativa do Brasil há mais de 5 prefeituras, umas com grande, média e pequena populações, tornando-se um filão para essas empresas de eventos faturarem alto com premiações e as recepções a posteriori que o dinheiro cobrado pagava. Tudo isso documentado para que o prefeito possa chegar à cidade e exibir à sua clientela (o eleitor) o feito alcançado por sua gestão, que deveria ser coroado com a contrapartida do voto dado a ele a ou quem ele indicar.

Com efeito, a partir da matéria que desmascarou este tipo de golpe, os prefeitos irão pensar duas vezes quando receberem comunicado de que sua prefeitura foi contemplada com um prêmio pelas realizações. Não havendo por trás desse reconhecimento organismos oficiais constituídos, o melhor prêmio que um gestor pode receber é da população de sua cidade, não através de um espelho que não tem nada de mágico mas que apenas reflete uma imagem enganosa.

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