Relatório denuncia grilagem de terras pelo agro no Cerrado do sul do Piauí

Os dados revelam esquemas que envolvem empresas do agro, imobiliárias agrícolas, fazendas

Por Alana Vargas,

Empresas transnacionais do agronegócio estão sendo acusadas de causar violência, grilagem de terras e destruição no Cerrado, especialmente no sul do Piauí. Um relatório divulgado nesta quarta-feira (12) pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos revela casos de fazendas envolvidas na emissão de títulos falsos de propriedades e a atuação de redes que buscam encobrir irregularidades relacionadas às terras no Piauí.

Foto: Mariella Paulino/REDE SOCIALComunidade Barra da Lagoa no município de Santa Filomenta
Comunidade Barra da Lagoa no município de Santa Filomenta

Santa Filomena

Uma das fazendas em destaque é a Kajubar, localizada no município de Santa Filomena, que deveria pertencer a comunidades tradicionais. No entanto, a área foi desmatada em 2021 e está agora no centro de disputas. A legislação estadual proíbe qualquer tipo de exploração e empreendimento enquanto houver indefinição sobre os direitos das comunidades.

Foto: Teresa Paris/REDE SOCIALDesmatamento em área do imóvel grilado Fazenda Kajubar (setembro 2022)
Desmatamento em área do imóvel grilado Fazenda Kajubar (setembro 2022)

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo relatório, o esquema que envolve a Kajubar e outras terras conta com a participação de empresas do agronegócio, imobiliárias agrícolas e empresas de comercialização. A estratégia é comprar terras a preços baixos e vendê-las a preços muito mais elevados. Paralelamente, as empresas envolvidas estimulam a monocultura, especialmente da soja.

Outras terras na cidade de Santa Filomena, somando 124 mil hectares, tiveram o registro bloqueado pela Vara Agrária da Comarca de Bom Jesus devido a indícios de grilagem e ilegalidades. No entanto, o grupo empresarial que disputa a titularidade conseguiu na justiça o desbloqueio, intensificando a violência e as ameaças contra as comunidades rurais locais.

Desmatamento

O relatório também destaca os altos níveis de desmatamento no cerrado, especialmente nas fazendas Santa Alice, Tupã, Tagí, Baixão Fechado, Passárgada, Reata, São Manoel, Serra do Ovo, São Paulo, Novas e Fortaleza I, II e III. Os pesquisadores ressaltam a facilidade com que o desmatamento ocorre nessa região, muitas vezes utilizando apenas dois tratores e um correntão.

Foto: AidEnvironmentDesmatamento comprovado por imagens de satélite no território Melancias
Desmatamento comprovado por imagens de satélite no território Melancias

O esquema de grilagem de terras é baseado no registro em cartório de títulos falsos. Geralmente, começa com o registro de um pequeno lote, que serve para justificar a apropriação de áreas maiores por meio desses títulos falsos, abrangendo dezenas ou até centenas de milhares de hectares, explicam os pesquisadores.

Em entrevista à Agência Brasil, Fábio Pitta, um dos autores do relatório, ressaltou que o capital financeiro é o principal fator por trás da apropriação indevida de terras. Ele também enfatizou que o relatório ilustra apenas parte do que acontece no Matopiba, região que engloba o cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A empresa Bunge, mencionada no relatório, afirmou em nota que "não comenta relações comerciais" e que está em conformidade com suas rigorosas políticas socioambientais. A empresa destaca que casos de violações de direitos humanos ou outras formas de exploração não são tolerados. A Bunge também mencionou seu compromisso de estar livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa em suas cadeias de valor até 2025, utilizando tecnologia de satélite para monitorar áreas prioritárias na América do Sul.

O relatório destaca a necessidade de evidenciar as práticas ilegais e a participação do poder público no esquema de grilagem de terras. Pitta ainda destaca a falta de articulação entre os órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental, emissão de parecer antropológico e fiscalização, bem como a lentidão do Judiciário em lidar com terras griladas.

Fonte: Com informações da Agência Brasil e da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos

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