Quem quer a paz não prega guerra
Quem quer a paz não prega guerra
Soa estranho vindo do presidente eleito Jair Bolsonaro o pedido aos adversários para que “abandonem o ódio sem necessidade” e que o momento é de paz e de todos relaxarem. Um político que teve como marca na carreira política a pregação do ódio, preconceito e intolerância , ouvir dele um pedido de trégua fica até difícil de acreditar. Não dá para esquecer como ele fez campanha presidente utilizando as redes sociais para desqualificar os adversários de maneira baixa e desleal.
Não dá para esquecer de como ele atacou grupos de mídia só porque o denunciou e o criticou em alguns pontos das posições que tomou. Ademais, um político que quer paz e trégua não prega um discurso de armar a população para combater o crime sem avaliar as consequências disso. Quando pediu que os adversários abandonassem o ódio sem necessidade, Bolsonaro não anunciou que abandonaria a ideia de liberar armas. Quem prega paz não adota a guerra social como lema.
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A oposição a Bolsonaro com certeza será bem diferente daquilo que ele joga para o público a fim de querer um governo sem contestação. O perfil do presidente eleito, com efeito, não é o de alguém que vai solucionar questões cruciais para tirar o país de uma crise que envolve política, economia e temas sociais. Embora tenha vencido as eleições com uma votação expressiva, Bolsonaro precisa se conscientizar que ele era a única alternativa ao PT. No centro e na direita ele encontrará restrições consideráveis.
Se ele estiver se dirigindo aos partidos de centro na tentativa de propor uma situação de coexistência pacífica sem os vícios da contrapartida da divisão do bolo do poder, ele pode tirar o cavalo da chuva que não vai conseguir. Quando assumiu o poder em 2003, o PT montou um ministério à sua imagem e semelhança escolhendo apenas petistas. Só depois percebeu que sem um governo de coalizão com os partidos de centro e direita a governabilidade estaria comprometida, voltou atrás e os colocou lá.
Repetindo o que fez o PT naquela sua iniciação ao poder, Jair Bolsonaro pode até conseguir por um tempo, devido o governo estar no começo, ter os partidos apoiando suas proposições no Congresso Nacional. Porém, quando o desejo por influência nas hostes do poder reacender, o presidente vai sentir o quando governar é na base do “toma lá da cá”. Por enquanto, o ministério que o presidente está montando tem mais militares que civis, e menos políticos ou pessoas indicadas por ele.
Agora se Jair Bolsonaro estiver se referindo ao PT e outros partidos de esquerda como adversários que precisam abandonar o ódio sem necessidade, o pedido terá pouco efeito. Até onde se vê o PT e seus convergentes não têm o discurso baseado no ódio ou na intolerância, muito menos no preconceito. A oposição sempre será ideológica, como foi a direita contra o PT em seus tempos de poder. Bolsonaro não fez só assim, foi além do limite, não ideológico, mas humano quando ofendeu negros, mulheres, homossexuais e defendeu quem agir fora da lei. Pregar a paz depois de se eleger com discurso de guerra? Isso não é crível.