O prejuízo da falta de transporte coletivo em Teresina é milionário
Teresina vive uma crise de transporte público que se arrasta desde 2020
Teresina vive uma crise de transporte público que se arrasta desde 2020, quando a pandemia de covid-19 piorou o que já era ruim. Nesse recorte temporal de três anos, ainda que não tenha havido medida precisa dos prejuízos, se pode dizer que a falta de um sistema de transporte custou mais dinheiro do que o dinheiro malgasto pela Prefeitura em um serviço que ou não é oferecido ou é feito mal e porcamente.
A crise no sistema de transporte – que não existe mais – deveria ser avaliada por lideranças (?) política, sociais e econômicas não somente no olhar focado na agudeza do problema, que são os frequentes surtos grevistas de trabalhadores, inúteis posto que nas atuais circunstâncias parece não haver meios remuneratórios consistentes para manter despesas correntes em dia – salários e seus reajustes incluídos.
- Participe do nosso grupo de WhatsApp
- Participe do nosso grupo de Telegram
- Confira os jogos e classificação dos principais campeonatos
Sem que se discuta as repercussões econômicas de grande monta que a inexistência de um serviço de transporte urbano causam à cidade, todo o debate estará prejudicado ou, pior, contaminado por interesses comezinhos.
Se a cidade tivesse um prefeito ou lideranças políticas que se dedicassem menos aos temas eleitorais e mais aos interesses comuns, talvez se pudesse avançar no rumo de uma solução duradoura e sustável para a questão do transporte coletivo – essencial ao funcionamento de outros serviços e da economia. Não é o nosso caso, infelizmente. Temos uma crise de liderança também.
Uma pessoa (o ou a líder) com visão sistêmica da cidade poderia, por exemplo, se dar conta de que a região central de Teresina, com uns 5 km quadrado concentra os imóveis de metro quadrado mais caros na cidade; é local de emprego, estudo e serviços para milhares de pessoas; tem potencial para atrair novos negócios por conta de uma infraestrutura viária e de energia.
A falta de um sistema de transporte que garanta um fluxo efetivo e eficaz a essa região da cidade causa danos econômicos e financeiros muito grandes. A redução da oferta de empregos e desvalorização imobiliária são dois desses prejuízos, causados pela queda no faturamento das empresas, em face de menor demanda por bens e serviços em razão da ineficiência ou inexistência de um sistema de transporte coletivo de passageiros.
Não há medida física das perdas financeiras que a falta de transporte coletivo de passageiros causa ao cento de Teresina, mas uma boa auditoria poderia chegar a esse valor. Garanto que será medido na casa das centenas de milhões de reais e, pior, em um crescendo.
Na ausência de uma avaliação especializada, porém, qualquer pessoa poderá sem muito esforço que a falta do transporte coletivo de passageiros inviabiliza e empobrece a cidade. A já citada desvalorização dos imóveis está à vista de todos em qualquer ponto da região central, onde o abandono de imóveis edificados ou não é uma triste realidade.
Fiz um passeio por somente dois quarteirões da área central, na rua Álvaro Mendes, entre David Caldas e Gabriel Ferreira. Quase todos os imóveis desses menos de 200 metros de via estão fechados, incluído o belíssimo palacete em estilo neoclássico que um dia abrigou a sede do Tribunal de Contas do Estado.
Ver todo esse abandono colocou em minha mente um sinal de alerta para o risco de uma inviabilidade permanente de toda a região central da cidade caso não se consiga resolver o problema de transporte coletivo de passageiros, que garanta a demanda por bens e serviços naquela área.
Claro que será preciso ir além e, sobre isso, convém lembrar o número inicial deste texto, os cerca de 5 km quadrados da área central da cidade, cada vez menos valorizada pela falta de demanda de consumidores: é necessário reabitar o centro, possível com uma política pública para construção de apartamentos na região central. Milhares de apartamentos podem ser feitos em uma área com infraestrutura já pronta ou que pode ser adequada para uma maior demanda por água, esgoto e energia. Um desafio para quem vier a ocupar a atualmente desocupada Prefeitura de Teresina.