Arimatéia Azevedo: 50 anos de jornalismo

Arimatéia Azevedo: 50 anos de jornalismo

O jornalista Arimatéia Azevedo completou 50 anos de jornalismo no último sábado (16). Ele entrou pela primeira vez na redação do jornal O Estado em 16 de outubro de 1971. Hoje, o colunista do Portal AZ encontra-se preso na Penitenciária Irmão Guido acusado de extorsão, em um processo que não apresenta provas sobre qualquer ligação do jornalista com o referido crime.

Arimateia Azevedo começou no jornalismo quando no estado do Piauí nem se falava em curso de Comunicação Social (Foto: divulgação)

Na sua profissão escreveu reportagens que repercutiram sempre na defesa do social e dos direitos humanos. Empenhou-se em reportagens polêmicas como as do crime da doméstica, do carteiro Elzano e do atentado à casa do reitor.  Foi o primeiro a divulgar e combater o crime organizado, sofrendo atentados e correndo risco de morte. 

Com 50 anos enfrentando poderosos e defendendo muitos indefesos, é acusado por muitos de exercer um jornalismo irresponsável ou imprudente. Isso porque talvez muitos não saibam: a sua maior responsabilidade é para com aqueles que não podem se defender. Isso ele leva muito a sério. Como, por exemplo, foi a sua luta para defender a jovem Fernanda Lages, estudante de Direito encontrada morta em 25 de agosto de 2011, no prédio do Ministério Público Federal, na zona Leste de Teresina. 

O Portal AZ é o 1° portal de notícias do Piauí, criado pelo jornalista Arimateia Azevedo no dia 1° de janeiro de 2000. Antes disso, para driblar a censura de donos do jornal, a coluna de Arimateia Azevedo passou a ser publicada na íntegra na internet, na página www.arimateiaazevedo.com.br, mesmo quando o colunista mal sabia ligar um computador. Os textos eram digitalizados com a ajuda de um digitador. E, assim, o ideal foi concretizado: disponibilizar informação de verdade, sem filtros ou cortes de acordo com interesse de chefes políticos ou grandes empresários. 

Arimateia Azevedo começou no jornalismo quando no estado do Piauí nem se falava em curso de Comunicação Social, em 1971, no antigo Jornal O Estado. Trabalhou durante sete anos no Jornal O POVO, do Ceará (1974-1981), saiu de O Estado na década de 1970 e foi para o jornal piauiense O DIA, em 1976, voltando novamente para O Estado. Foi editor dos dois jornais: O Estado, em 1980, e O Dia, em 1993. 

Foi também o primeiro editor do Jornal Meio Norte, em 2001. Fazia free-lance para o Jornal do Brasil (sempre cobrindo o correspondente Wilson Fernando, chegando a tirar suas férias na época em que o Papa João Paulo II veio a Teresina, em julho de 1980). 

Atuação do jornalista Arimatéia Azevedo contra o crime organizado é destaque no Diário do Povo em 2001

Engajou-se no jornalismo investigativo, recebendo por isso todo tipo de ameaça. Atuou intransigentemente nas investigações do assassinato do jornalista Helder Feitosa (O Estado), denunciando a manobra do governo de então (1987) de querer apresentar três jovens inocentes como os matadores do jornalista. Em 1988, bateu de frente com o Crime Organizado, denunciando o então capitão Correia Lima. E de lá para cá tem se posicionado sempre na defesa dos interesses sociais. Fundou o Portal AZ para se ver livre da censura.

O jornalista e professor de História, Claudio Barros, destacou que “nos 50 anos de jornalismo do Ari, o que muito e mais importa é lembrar que, se a falta de liberdade dele nos leva à contrição, a extensa lista de serviços prestados ao Piauí nos possibilita soltar rojões, festejar, comemorar exultantes esta efeméride – mais ainda porque temos confiança de que o Judiciário haverá de reparar uma injustiça cometida a mais, entre tantas já cometidas contra Arimateia Azevedo ao longo de meio século de trabalho, luta e coragem”. 

Prisão 

O jornalista Arimatéia Azevedo, que sempre foi alvo de perseguição por causa da sua atuação contra poderosos no estado, foi preso em 12 de junho do ano passado por causa de uma matéria que expôs um erro médico cometido pelo cirurgião plástico Alexandre Andrade.

Crítica à prisão do colunista Arimatéia Azevedo 

A reportagem foi publicada, em 06 de janeiro, assim como outras denúncias que a redação recebe diariamente. Na publicação constavam documentos e imagens sobre o caso supostamente criminoso atribuído ao profissional que no mesmo dia teve todo o espaço para dar a sua versão, como fez.

Imediatamente, os advogados de Alexandre Andrade enviaram uma nota de esclarecimento acerca do conteúdo publicado. Uma nova matéria foi ao ar no mesmo destaque que a anterior e com a mesma divulgação nas redes sociais. Quase seis meses depois o jornalista Arimatéia Azevedo foi preso em plena pandemia do novo coronavírus em sua residência, acusado de ter praticado extorsão contra o médico Alexandre Andrade e foi impedido de dar a sua versão sobre o caso, assim como o Portal AZ, que ficou proibido por meses de publicar matérias a respeito do assunto. 

 

Chargista Izânio registra a liberdade de Arimatéia Azevedo 

Além da prisão, Arimatéia Azevedo estava proibido de trabalhar, teve sua imagem explorada negativamente em diversos sites locais, emissoras de televisão e no rádio, sem poder dar a verdadeira versão dos fatos. Sem voz, sem espaço e censurado pela justiça do Piauí, Arimatéia não teve chance de defesa.

Somente em 24 de novembro, após ser submetido à prisão domiciliar, o Superior Tribunal de Justiça julgou e aprovou, por unanimidade, o Habeas Corpus que deu liberdade ao jornalista Arimatéia Azevedo. 

Nova prisão sem provas

O jornalista Arimatéia Azevedo foi surpreendido pela decretação de sua prisão preventiva na em 07 de outubro, por fatos que desconhece, e principalmente sem nenhuma relação entre a suposta causa e o seu efeito. O colunista do Portal AZ foi acusado de extorsão. Na ocasião, também foi preso o advogado Rony Samuel.

Clique aqui e veja o que levou o jornalista à prisão. 

A peça que se produziu para servir de base ao acolhido pedido de prisão do jornalista, tem menos provas e mais um rosário de conjecturas pessoais, uma das quais se informa que a evidência de prova contra o jornalista preso e o advogado Rony Samuel, igualmente detido, se baseia em consulta às redes sociais Facebook e Instagram, nas quais “se verificou que os dois têm vínculo de amizade, visto que no Facebook eles são amigos e no Instagram são seguidores um do outro”.

O jornalista Arimatéia Azevedo, preso sob acusação de extorsão, nunca manteve contato com a pessoa que o acusa de tal crime, seja presencialmente, seja por qualquer meio de mensagem ou mídia.

A liberdade de Arimatéia Azevedo 

Essa informação está no inquérito em que o juiz acata todas as ilações do delegado como verdadeiras, e, com base num rosário de argumentações insustentáveis, decretou a prisão preventiva do jornalista. 

Na notícia-crime contra o jornalista, informa-se que, juntamente com o advogado Rony Samuel, Arimatéia Azevedo estaria extorquindo o denunciante, Thiago Gomes Duarte. Mas é o próprio denunciante, no âmbito do inquérito secreto, que, com suas palavras, desmonta a possibilidade de o jornalista tê-lo extorquido.

Diz Duarte que não tem conhecimento sobre se haveria uma relação prévia entre o advogado e o jornalista. Também disse que nunca teve relacionamento com eles. Ou seja, informa extorsão contra o jornalista Arimatéia Azevedo sem nunca ter estado com o denunciado. 

Se Duarte não sabia dessa relação, tampouco a autoridade policial sabia, mas criou um meio de prova ao colocar no inquérito essa vinculação por meio de fac-símile (prints) de terceiros. 

Desse modo, a que não há trecho da investigação que comprove a relação, ligação ou comprovação de efetiva influência de Rony Samuel na publicação dos conteúdos.

O Ministério Público entendendo a condição de saúde de Arimatéia Azevedo ainda manifestou-se favorável a prisão domiciliar do jornalista.

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